Meus
Memoráveis Tempos do Halley
Por
estas paragens retornava;
num alvoroço centenário se anunciava,
curiosidade despertando,
expectativas
gerando,
desde quando se houvera saber
da sua reaparição a acontecer,
como um velho conhecido
fazendo-se ressurgido.
Deixar de ser não poderia
a esta alma contemplativa que se havia
iniciado num âmbito superior de pensamento,
aguardando o ano,o mês,o dia, o momento
da sua
passagem fulgurante;
de tomá-lo como tão impressionante;
de tornar-me por assim arrebatado
de por isso
muito ter especulado
E fiz-me aguardá-lo de um lugar especial,
entre seres sapientes de cristal.
Altas teses e conceitos poéticos;
humanos, profundos, estéticos.
As mais artísticas expressões;
as mais místicas meditações.
Teorias irrefutáveis,
Políticas inquestionáveis,
de lazeres entremeados;
prazeres os
mais refinados.
E , Óh, o quanto ganha relevância
fatos sob a sua circunstância;
inusitados acontecimentos,
mexendo com os pensamentos.
Faz-se sobrecarregar noite e dia
o ambiente de densa poesia,
com
especial encanto
que
envolve os quatro cantos.
E oh! O quanto pensa um vivente
ante à sua presença iminente.
Se poder magnético possui;
se irradia energia que
influi;
se relação com os metafísica encerra
com seres já aqui na Terra,
não afirmaria certo não ou sim.
Ou se tem algum, qual o seu fim?
Mas desperta para o poder do universo
Em grande mistério faz tudo imerso.
Se marca
um tempo a se renovar;
não é apenas um fato da astronomia,
mas
possuis mais intensa magia.
Contemporâneo a seu tempo sendo,
vivências do seu tempo depreendo;
sua última passagem do segundo milênio então;
início do último quarto do século vinte cristão.
E oh! E quanto mais a mim se sugestionou;
o quanto
animou o meu espírito sonhador...
Que influenciou em minha mente
é certo, indubitavelmente.
E nos objetivos, planos que idealizei
por seu tempo, tanto mais acreditei...
E tanto
no universo ampliado pensei;
e muito mais sobre a realidade especulei;
o sobrenatural fantasiei;
a
verdade imaginei.
voltados ao astro tão somente.
Era uma viagem, um trem espacial,
numa intergalática real,
mas pelo luminoso demais percorrido.
Numa dimensão da mente, propulsão.
Oh, humanidade, vida desassossegada,
neste minúsculo lugar, fragilizada;
oh! Cosmos de imensas grandezas,
das quais tal corpo é uma das belezas.
Mas o fazia enorme, vistoso o brilhante,
na sua presença impressionante,
avançando inexorável
em sua órbita incomensurável;
enorme bola de fogo a passar,
os olhares a maravilhar;
numa visão inesquecível
da celeste paisagem,
alterando a imagem,
realçando o belo céu em poesia,
a mais do que se vê dia-a-dia.
Óh, o quanto me fiz reflexivo
por seu movimento vivo.
Enorme, vistoso, brilhante seria,
como o meu sonho se realizaria.
Era mais um em
desilusão,
do que
em si havia de previsão.
Não se fez em sua imagem gigante.
E se na
minha visão ainda assim se crava,
O que me aconteceu, da parte do sonho
dizem estes versos que componho.
Era
quando assim passava,
e a minha vida desmoronava.
Com os pilares a ponte caía.
A ponte
que então construía
Ficou a minha luz no escuro;
em volta fechavam-se portas;
as trilhas tornavam-se tortas.
E eram passos em desaprumo,
Incertos na direção, no rumo.
resguardei-me no amor a me valer.
O ódio não lograva vingar em mim;
Preservava a pureza da alma assim.
como se buscasse ajuda a meu favor.
Pra me salvar da dura adversidade,
a me envolver em intrigante realidade.
Invocava do universo qualquer poder,
que o necessário bem me viesse a fazer.
Então clamava qual desesperado.
Qual fossem brados ao firmamento lançados.
E pela lira também fiz mensagens soar,
para que
no alto espaço fossem viajar
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para que alcançasse onde bem não sei,
pela magia de doce flauta mandava
notas que meu estado d'alma propagava
mas que
algum ser iria me poder interpretar,
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e com sua providencial intervenção
me iria livrar da aflição
em que agonizava.
Assim me salvando imaginava.
Era assim que na situação acreditava;
era meu pressentimento que atuava.
Pois eu era como uma montanha a desmoronar;
e era no mundo , um a se desenganar.
em fúria, indignado, descontrolado,
no ermo campo da batalha das paixões,
onde são armados os corações;
projetado a um abandono sem fim.
foram-se todos para bem longe de mim,
nas diferentes direções da vida,
deixando-me num deserto sem guarida.
E óh, quantas lágrimas foram derramadas;
compulsivas, veementes, revoltadas,
pelo que
sentia de verdade
fechou-se no céu o tempo, de repente;
carregadas nuvens o dia em noite tornava;
e com trovões a tempestade se anunciava;
os relâmpagos os raios anunciaram.
Os meus passos então se apressaram,
tementes
de um fatal perigo;
e em quilômetros não havia abrigo;
e assim
preocupado eu corria.
Um
primeiro raio próximo a mim caía;
naquela tão aflitiva hora:
anéis ,
pulseiras, colares, dispensei,
após alucinada corrida,
temente d’álgum raio selar-me a vida.
E ali, antes de longa noite sem dormir
E prossegui do deserto a travessia
na clara manhã azul do novo dia.
Desilusão à mega astral passagem,
pelo que fazia disto a imagem;
pelo que não se realizaram meus anseios,
e por tudo o mais que então veio.
E vieram rajadas de vento
trazendo inesperados tormentos.
Dentro em minha mente varria,
que o cabelo desde as raízes doía.
E em meu juízo caiam faíscas de fogo;
e a vida tornou-se um perigoso jogo,
tirando-me
estabilidade e confiança,
instaurando-me
ansiedade e insegurança.
Num denso vazio, num cáustico tédio,
fraqueza, desânimo, prostração sem remédio,
como se me houvesse enfeitiçado;
sentia-me o corpo todo quebrantado.
Fui arremessado a um abismo sem fim,
profundíssimo no
âmago de mim;
e caía,
e caía tão somente;
e vagava mais e mais infindamente.
Fui ao frio; ao redemoinhante negror;
em náusea e tontura a cabeça rodou;
e ia perdendo paredes, teto, chão;
consciência, sentidos, visão;
e temia de a loucura , irreversivelmente,
tomar- me definitivamente.
E batia
tresloucado o coração;
mas paralisava-me o medo que meu ser tomava.
E aquela situação de terror se prolongava.
Temeroso de cair, um passo não dava;
e aquela situação me angustiava;
e só o
despertar me salvava.
E foram noites e noites insones.
E em noites das noites insones
em que o dia de repente raiava,
tão rápida a noite passava,
quantos eram os pensamentos,
que se
tornava a noite um só momento,
Se eram da minha mente projeção,
não eram de uma mental alucinação:
neles não pensava então;
______________
Não me custa acreditar que eram reais,
no alto céu a enviar-me sinais.
E eram como um alento: só eu não estava.
E assim captar as mensagens tentava...
E um
deles um luminoso gás soltou
que num planeta com anéis se transformou.
E às vezes movimentavam-se rapidamente
vertical, horizontal e diagonalmente.
E outro depois avistei distancíssimo,
entre astros pequeniníssimos.
E de um
outro sonho lembrava:
um vulto em noite escura à beira mar caminhava,
então uma nave espacial junto a ele baixava,
e nele indo embora então viajava;
e tanto quanto mais me intrigava.
E não esquecia remoto sonho que falava
do mistério que envolve solitárias gentes.
Era um deserto com sol poente ou nascente...
E contatei estrelas sinalizadoras que apareciam,
buscando compreender as coisas que me aconteciam.
E às vezes silenciava de se ouvir o mar murmurar,
e até de
se ouvi-lo silenciar.
momentos se faziam de alívio e trégua no drama.
E noites se passavam ao meu desperceber,
pensando, pensando, pensando a valer;
e eram tantos pensamentos eu pensando;
aos borbotões da minha mente jorrando,
como água de cachoeira despencando,
com tantas e tantas idéias minando.
E também foram noites e noites sem dormir
por tanto barulho a meus ouvidos invadir,
além
das vozes azucrinadoras,
entre
outras, suaves, acalentadoras.
a quase explodir meus miolos estavam.
E
algumas ouvia contra mim urdirem.
________________
E um canto agourento negra ave assobiava,
interceptando- me os pensamentos no que ansiava.
E meu juízo com seus pios me apoquentava;
e mais e mais o meu sistema nervoso afetava.
Decidido e determinado no mar a fiz fenecer;
não mais agüentava com tal presença conviver.
Depois a ouvi ainda entre as vozes azucrinantes.
______________________
Por tanto, o bom senso muitas vezes perdia,
e
tamanhas loucuras cometia;
Jamais esquecerão meus lábios, meu rosto.
E inflamou-me o coração até;
e brasa
deu-me sob os pés.
E num ciclo involutivo penava sem clemência;
que desmantelava tudo que me fizeram crer.
E era uma crise só minha existência.
E o mar refletia, quando em suas águas bravias,
essa conturbação que meu ser envolvia.
Se pudesse, do planeta fugiria;
cheguei a pensar naqueles dias...
E um
labirinto sob o céu se me tornava;
e ora era um molambo sob o sol a caminhar,
ou nas
noites sob as luzes dos postes a iluminar.
E ainda imaginativo, curioso, por vezes me indagava
a quantas a essa altura o meu cometa andava...
E ora sentia uma fome a qual nunca saciava;
e comia numa gana selvagem que me dava.
E ora ficava longos tempos sem
comer;
e
pensava, pensava, refletia, meditava a valer.
A sombra d’um alguém meus passos acompanhava;
irado, quatro dedos envoltos em metal, me ameaçava.
E uma mulher segurando pela calda um escorpião,
me cravava pela carne à alma o aracnídeo ferrão.
Iniciei- me em indignada
manifestação;
e toda a humanidade repreendia então.
Legião de maléficos contra mim se voltava;
e ante
a todos me fazia forte e lutava.
Um ser
satânico mostrou-se fazendo-se visagem,
frente à minha cama na hora de dormir.
Então eu orava para defender-me bem,
e então o ser satânico sumia também.
E na noite seguinte ele reaparecia;
então eu orava,
orava e ele se ia.
E quando meus olhos fechava,
antigos profetas avistava.
E nas visões que então estava tendo,
era
nuvens de fumaça a lua absorvendo;
e a pousar com graça a lua em seu quarto minguante;
nariz e lábios proeminentes em posição relaxante.
Também vi a lua cheia um ser diabólico a englobar;
calda de seta suspenso no ar,
a me encarar sério, sem se dissimular.
Não sei disso bem o que pensar...
Mas também via Jesus se mostrar,
na entrada do sol afigurar.
A que
aprendi a crer __________
tanto do céu se mostrava ante minha visão;
estrelas e mais estrelas do céu caiam,
e outras
mais e mais surgiam.
E se mostravam as mais incríveis paisagens;
as nuvens tornavam-se nas mais diversas imagens.
Quiçá miragens fossem somente então;
ou só tomavam formas ante à minha visão.
E assumiam formas humanas também;
gente que
já tinha ido para o além;
e eram
tipos os mais esquisitos;
mais distante no céu outro me acenava adeus.
Vi uma árvore em semblante assombroso se mostrar;
que foi miragem ainda custo
acreditar.
E sentia o tempo rápido a passar,
e eu sem o poder o acompanhar, ìa ficando para trás;
e
sentia-me perdido mais e mais.
pelo vidro da janela a me olhar.
Outro vi tentando da minha visão se esconder;
brincalhão, de mim, da minha procura a se entreter.
E outro vi sentado à noite na beira de um mar,
e perguntou-me de mim ao por ele passar,
quando rodava à procura da lagoa mágica,
tendo ultrapassei numa passagem para tantos trágica;
vi tais espectros ali amontoados,
pelo medo barrados.
De me verem seguir determinado
ficaram admirados;
após, encontrei então o silêncio universal,
de ouvir-me até o pensamento em sua essência real.
E vi uma esfera dourada e
brilhante,
como um pequeno sol, radiante.
Como uma jóia, deixou-me fascinado;
tal lembrança ainda me faz intrigado.
E a tudo isso, compreender eu tentava,
e por mais que tentasse
não atinava.
e em seres humanos então encarnarem.
Almas de desencarnados de outros planetas eu via:
tomavam o corpo de quem a alma matado
se havia,
e
assumiam missões de quem assim não mais existia então;
e assim vão assumindo cada qual uma sacramentada missão...
Vi no trono de um templo, cajado à mão,
um tão antigo profeta em seu galardão;
coroa à cabeça,
barbudo, austero;
de olhar
atento, guardião severo.
E em meio àquele povo eu também estava,
e eu seria a luz da qual aquele povo precisava,
mas a quente influência daquela luz
me torturava,
e com tudo o que havia, ainda mais me transtornava;
sofria seu olhar de ódio
alucinado.
E me
perguntava o porquê de tudo isso, intrigado.
E vi um ancestral cacique revoltado,
por seu povo terem dizimado.
E inquiria, ante à imagem de Jesus salvador,
erguido em pedra, o porquê de tanta
dor.
E era
rijo e tinha um duro olhar;
que o Ser Superior não tinha culpa enfim,
mas sua paixão apaixonara um povo assim.
Esse índio tinha na cabeça três penas,
e
chorava pelo seu povo, triste cena.
E vi o interior da minha morada
transformar- se totalmente deformada.
Lampejos no azul do céu eu via,
e a
noite vir quando ainda era dia;
e via-me a poder ver de olhos fechados;
e via- me em um mundo separado;
e havia um canto que de longe vinha,
e forma de gás etéreo tinha,
e de dentro desse canto
vinha outro num espanto,
e era quente,
agoniando
a mente
pois sua radiação quente assim não podia
queimar-me a alma como fazia,
ocupado
que estava
aquele inferno se fazia ainda mais esquentado.
Sentia-me ao pelo seu ser preso sofregamente,
como se houvesse ali uma parte da minha mente.
E vi no céu, num átimo de olhar de repente,
de branquíssima fumaça uma serpente;
e morcegos espaciais a cravarem dentes,
sugando forças de corpos e mentes
de tantas almas, de tanta gente;
vi os cães na areias da praias repousando,
na tarde serena, lenta, passando;
e na madrugada silenciosa, gatos negros despertos,
ante à insegurança do meu futuro
incerto;
vi os galos trocarem cantos na madrugada.
e na manhã trocando cantos a passarada.
Era conversa, discussão, um ao outro replicava.
E toda aquela troca de idéias eu
interpretava.
E no centro da Terra, em mim viajando,
vi dela um sábio ser se ocupando,
e assim fazia a certas mentes iluminar,
para problemas soluções encontrar.
E via um fluido do meu crânio sair,
aliviando-me a mente, a fluir, a fluir.
E tanto mais
eu via,
e tanto
mais acontecia.
o qual me revelava
a
terrível situação em que me encontrava:
era um pássaro preso numa gaiola em que estava,
e uma ventania era de alguém que sobre o pássaro abanava
Mas o pássaro era eu que sentia,
e era assim que mais me afligia.
E não repousava, pelo vento que assim castigava,
e aquela situação mais e mais me
cansava
era um penar sem poder descansar
e ansiava demais poder repousar.
E esse alguém parecia não ter coração.
Como podia agir assim contra um irmão?
E tudo
isso e bem mais ia vivendo,
tudo
assim e mais e mais ia sendo.
como réu fui eu o escolhido
para representar a humanidade
no julgamento da sua maldade.
E
ressoou a sineta iniciando o julgamento,
o que começou neste conturbado momento.
E desfilava ante meus olhos no tribunal,
desde o primeiríssimo mortal,
e da humanidade a saga, a história,
de decadências, passagens inglórias,
entregue aos pecados e atitudes inescrupulosas;
às injúrias, aos escândalos e orgias luxuriosas;
aos exageros, ao cinismo , às incongruências;
aos vícios, à
mesquinhez, à violência;
aos desmandos, às quedas, aos vexames;
às aberrações libidinosas, aos desditames;
à perda do
respeito a tudo, a todos, a si.
e como já era por mim esperado,
fui por
unanimidade condenado,
e a um covil de serpentes fui atirado,
cruelmente submetido e escravizado.
E muitas picadas dolorosas sofria,
e lá havia muitas armadilhas em que caía,
e armadilhas mais viviam a armar
nos
caminhos me havia para trilhar
na busca desesperada de me salvar.
Outros e outros mais eram atirados às serpentes,
que picavam, envenenavam os corações
daquela gente.
E tanta
fétida fumaça sufocava,
E ouvia terríveis gemidos dos condenados,
que como eu soltavam dolentes gemidos,
gemidos das dores que sentia.
E via gente a morrer de todos os lados;
fustigavam, espicaçavam, pirraçavam, irritavam.
E uma angústia sentia na alma, no peito;
e era sofrimento e aflição e todo jeito.
Mas no Ser Superior tudo é enigmático,
e vingara enfim os meus contatos telepáticos
com anjos estelares do presente, do
futuro e do passado,
e pela estrela que houvera conquistado
com a força do pensamento
em tão
precioso momento,
e a qual em note tão mística me alcançou
no fluxo da consciência do próprio amor.
Aos
sentidos do Ser Superior chegaram
após refluírem nas estrelas destas paragens.
como o Anjo mais perfeito a se conhecer,
e após
segui-lo a cumprir desafios tão duros,
Por mar e terra me havia arrojado sem temer a morte,
então por fim Ele veio, salvação e sorte.
E por Ele abriu-se uma fenda de luz mais e mais,
desvelando a Terra numa beleza por demais,
sob o sol a natureza em belas cores.
e nas asas dos anjos telepáticos voei;
e libertos daquele inferno outros mais encontrei.
Tornou- se então sereno o mar que me agitava:
O Bem o Grande Mal derrotava.
que a vida nega, e destrói mentes sãs;
que de sonhos de realização do bem é opositor;
que em avermelhada nuvem me houvera aparecido,
aencarar pressionador o meu ser cansado, caído,
entre espinhos, no ermo, sofrido, lacrimoso,
com seu
olhar fixo, rancoroso, odioso;
para fazer-me a alma perseguida.
Foi
dominada e queimada a serpente da dor;
E com o Grande Mal caíram os hipócritas, inimigos do amor;
aqueles mesmos que falso juízo final organizaram,
e que por humanos erros vidas
inocentes ceifaram.
Graças a desejo, paixão e fé minha força se renovava
pela vida e pelo sonho nos quais mais e mais acreditava;
dentro em mim uma força cresceu;
o bem em
mim o mal não venceu,
do dilema dantesco me livrei.
E acima da minha cabeça sob o céu, em bando,
andorinhas reais voaram circulando;
e a terra prometida por fim alcancei;
e ao mundo outra vez retornei,
após o eu de mim encontrar,
e a sã consciência vingar.
Todo o
mal como veio se foi daqui;
dentro em meu crânio uma luz intensa,
tão clara, tão forte, tão densa;
e retornei ao gozo da vida mais pura,
após as mais absurdas aventuras;
após o que
pude me conter
transcendendo ideais e pensamentos;
sonhos reais de estar voando,
sentindo todo o meu ser flutuando.
Do espaço sideral me fiz ainda mais admirado;
nos céus das noites são astros
insuspeitados;
no acrílico azul marinho de prateados brilhantes,
Em constelações, planetas, lua e pontos de luz riscantes.
E como é bom o alvorecer e belo e dia,
cinza, branco, azul com o sol que irradia;
e volta a ser bom passear à beira mar,
e o mar contemplar, e nele nadar e mergulhar;
mergulhar até o último fôlego em
movimentações,
experimentando dos peixes as sensações;
e como é mais belo e vistoso então,
no cinzento inverno ou no colorido verão;
e como é bom viver a vida,
resgatado
o seu viço e em tão boa guarida.
e os quais aqui são narrados nestas pobres rimas,
não é sobremaneira tudo o que suponho.
Sou consciente de o quanto eu sonho,
e o quanto de pesadelo pode vir então
sendo ambos de uma mesma dimensão.
por terem acontecidos concomitantemente
a uma
época em que por aqui o Halley esteve presente;
_______________
antes,
durante e depois da sua passagem tangencial.
Fatos aos quais por aqui ponho um ponto final
neste momento em que os deixo registrados;
____________
que de mim então transporto ao mundo.
E a quantas anda o meu cometa famigerado?
Tão longe vem para outro tempo esperado.
que se tornara um ermo por demais.
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Zé Firmino encontrou a estranha semente.
Estava bem à mostra na beira do caminho.
Zé Firmino parou a fitá-la pensativo:
será que
valeria à pena levá-la?
Qual
tipo de vegetação dali se geraria? Qual tipo de vegetação a gerou?
Era
grande e pesada a semente. Um inquietante dilema o envolveu: levar ou não levar
a semente?
Por que
de repente na sua vida já por demais atribulada
vinha
agora a se mais encucar por causa daquela semente ali? Não poderia passar ao
largo dela,
sem por
ela tomar-se em mais problema? Mas aí então é que estava o ponto:
por que
parara de repente fixado pela semente? Era porque estava ali para que a
levasse.
Se não a
levasse viria a ser pior a encucação, sempre a pensar no que seria com a
semente, e martelariam-lhe pro resto da vida
pensamentos,
conjecturas e possíveis arrependimentos.
Estaria
fugindo a uma trilha do destino recusando-se a carregar tal semente, ou estaria
apenas auto-sugestionado, efeito de muito sol na cabeça?
E no
complexo dilema já se demorara muito ali, deixando-se aos pensamentos se
decidirem...
E os
pensamentos tenderam para seus caminhos:
se na
sua vida então bastante virada
viera
agora a parar tudo por causa daquela semente a se insinuar ali em seu caminho
era porque alguma relação consigo havia.
Ademais,
havia de dar-lhe um tom variante à vida. Para a semente então convergia o fluxo
da sua vida. Seria agora o centro da sua vida vazia,
e quem
sabe preencheria a sua vida de benesses? E se lhe viesse a ser trágico?
Pouco se
lhe dava:
Que diferença
faria na sua vida adulterada?
Serra
porque estava escrito que assim deveria ser. Então levaria consigo a semente.
E assim
decidiu-se, e enfim apanhou-a.
Resolveu
que a semente já era parte da sua vida. Mas... Para onde iria levá-la? Onde
plantá-la?
Zé
Firmino vivia caminhando pelo mundo sem destino; sem casa, sem terra, sem
descanso;
dormindo
pelas beiras das estradas,
pelas
portas das igrejas,
depois
que deixou sua cidade, família, amigos, emprego, após ter sido exposto ao
escárnio e à chacota
do povo
pela grande humilhação lhe imposta, pois desvirginara a filha do prefeito,
que
então através do delegado e seus homens, lhe providenciara uma surra em praça
pública, à maneira como se fazia com os escravos;
e usando
um poste como pelourinho, o Zé Firmino ainda ficou exposto durante um dia e uma
noite,
nuzinho
com a bunda exposta ao público, que estava convencido de que o Zé Firmino era
quem era o lobisomem da cidade,
e fora
flagrado como tal na noite passada. Tudo armação do prefeito e do delegado,
cujo ao
filho tinha a filha do prefeito como prometida. E o povo aproveitou-se então
para fazer a festa:
o grande
demônio enfim estava amarrado; o grande vilão sujeitado.
Naquelas
horas, por muito o Zé Firmino passou: após a grande surra e as costas a sangrar
ficou
exposto e despido ao tempo.
E cada
qual tirava a sua lasquinha, dando-lhe tapas, soladas, sardinhas; tirando
sarros das suas nádegas.
Naquela
noite enfiaram até coisas no Zé pelo orifício anal: linguiça , vela, cabos de
vassoura, etc.
Enquanto
a filha do prefeito fora mandada para fora da cidade às escondidas,
para
evitar o grande escândalo,
e após
ter tomado também a sua surra em seu quarto trancada.
Fora
colega de escola de Zé Firmino no tempo que eram ainda meninos,
e
tiveram um namorico de ousadias às econdidas. O pai dela viria a tornar-se
prefeito;
o pai de
Zé Firmino, que era dono de um bom pedaço de terra
de
sólida plantação a começar a prosperar àquela época, tornara-se pobre, sem
terra, sem nada,
e havia
sido morto e enterrado; tudo armação do futuro prefeito,
que não
admitia ninguém fazer-lhe frente na política, discordando dos seus projetos
ambiciosos, atropelando a tudo e a todos,
com seus
desmandos e falcatruas,
coisas
de que o pai de Zé Firmino protestava, alardeando a quantos pudesse na cidade,
o que
irritava o futuro prefeito, prestes a tomar suas providências. E o Zé Firmino
teve que se virar como roceiro, e labutava todo dia em roças alheias em troca
de comida e abrigo.
Mas a
filha do prefeito nunca esquecera
os olhos
negros acinzentados do Zé Firmino. e então os reencontros às escondidas,
e então
ela resolveu se entregar.
Zé
Firmino estava marcado para morrer,
depois
que fosse tirado do poste onde amarrado, ninguém lhe deveria matar ainda,
pois a
grande festa do linchamento estava para já acontecer na outra noite, após a
confissão forçada do Zé,
de que
era ele mesmo o Lobisomem responsável por tantas desgraceiras e mortes. Mas
mesmo essas desgraceiras e mortes eram armações do prefeito e do delegado, que
assim dava conta dos seus desafetos, com mortes, destruição de plantações e
incêndios, tudo atribuído ao tal lobisomem
que o
prefeito inventara com o delegado
e alguns
comprados pelos quais davam vida ao tal lobisomem em “suas aprontações”. Mas
naquela noite uma alma boa, aproveitando o sono embriagado
do vigia
que houvera o delegado incubido de tomar conta do Zé, livrou- lhe da sua
aflição,
e
aconselhou-o a buscar justiça...
O Zé
logo caiu para dentro da escuridão da mata... Nem viu o rosto do seu
libertador, ou libertadora, coberto que estava por um manto na alta madrugada,
e mal pôde também agradecer...
Mas onde
que nada de buscar justiça!... Onde?... Todos naquelas redondezas estavam
aliados ao prefeito, que se havia tornado demais poderoso, em troca de fortuna,
proteção e tanto mais.
Zé
Firmino não tinha força para tanto,
e
resolveu que iria esquecer tudo aquilo... Pelo menos ainda estava vivo...
E o Zé
queria mesmo era viver.
Então
resolveu sair pelo mundo afora sem parada. Foi como se manifestou sua indignação.
E nunca
mais por ali aparecia.
Já fazia
bem uns cinco anos ou mais que vivia de déo em déo bem distante do povoado onde
tudo acontecera.
Já
acostumado a essa rotina, por centenas de cidades já passara; milhares de
quilômetros já andara;
uma prosa
aqui outra ali com um ou outro curioso, mas nunca a ninguém revelara o porque
de se haver tornado andarilho.
E já
estava acostumada a essa vida assim, sem esperar que coisa alguma diferente
viesse a mexer consigo de fato,
depois
de haver endurecido,
e a tudo
ter tornado indiferente como agora acontecia,
por
causa daquela semente,
que
entrara na sua vida e era parte de si. Mas, para onde levá-la? Onde plantá-la?
Perguntava- se outra vez.
E a
resposta era que deveria buscar um lugar.
Pois
deveria ter um pedaço de terra para plantar e cuidar da semente.
E assim
também se plantaria nalgum lugar, e então poria fim enfim às caminhadas.
E esse
pensamento lhe passou agradável como uma fresca brisa num abafamento. Seria o
fim das andanças ao acaso.
A semente
poria fim à sua rebeldia fundamentada, a qual se desvelou em andar
por
caminhos nunca antes por ele andado, fugindo do passado, de tudo e de todos.
E a
semente era enorme e pesada. tinha que carregá-la com as duas mãos.
Mas como
já era parte de si não podia deixá-la, e pensava agora num lugar onde
plantá-la.
E
cansava os braços e então descansava, e ia levando a estranha e pesada semente.
E
carregando a semente entrou num povoado. E teve que encarar muitas reações
adversas;
e ouviu
muitas histórias sobre a semente.
Pessoas
davam-lhe as costas
quando o
viam e mais aquela semente;
outras
se persignavam mais de uma vez e se afastavam; alguns o encaravam com olhar de
espanto e medo; outros o fitavam com um ódio muito feroz.
E por
onde passava com a semente
era
apontado e olhado com curiosidade e distância;
e
pessoas cochichavam e comentavam umas com as outras.
E logo o
homem da semente ficou conhecido no povoado.
E sobre
a semente diziam muitas coisas: que trazia azar e muitas coisas ruins; que muitos
dramas a muitos já causara;
que ela
causara também muitas tragédias;
que já
destruiu muitos lares, famílias , fortunas; que por conta dela Fulano virara
lobisomem; Sicrano se tornara morcego;
Beltrano
virara mula sem cabeça;
Não sei
quem houvera se tornado cachorro louco; que Um tal passara a ser macaco;
outro
virou urubu; e até viraram cobra;
houve
quem se tornasse urubu; quem se tornasse porco;
quem se
tornasse jegue;
quem se
tornasse até o próprio diabo;
que a
semente houvera já desencaminhado a vida de muita gente;
que um
tornou-se alcoólatra; que outro tornou-se drogado; outro ficara miserável;
que
tinha quem tivesse ficado cego; quem tivesse enlouquecido;
quem
virasse assassino; quem virasse ladrão;
e um
virou psicopata; e outro virou suicida;
que um
tal matara o pai; que um outro matara a mãe;
já outro
matara a família inteira.
E assim
contavam as mais terríveis histórias, e era tudo por causa da semente.
Porém
havia algo de controverso.
Pois
diziam outros que a semente não era má; e que até trazia sorte para muitos;
que
havia casos de sabedoria e fortuna também atribuídos à semente; tesouros,
castelos, reinados, impérios... Tudo conquistado através da semente.
Havia
quem cresse também
que a
semente nada representava,
e que a
imaginação do povo era muito fértil e lhe atribuía coisas infundadas,
pois o
que tem de ser
está no
destino de cada um, independentemente da semente.
Mas a
grande maioria via a semente como coisa ruim.
E o Zé
Firmino continuava a carregar sua semente, indiferente a tudo e a todos;
e pesava
todas aquelas histórias;
ora se a
semente faz revelar a sorte ou o azar, que lhe viesse a revelar o seu também
...
que
diferença iria fazer na sua vida de nada; sua vida de menos de que nada?
E já
estava no povoado há mais de uma semana, carregando a semente pra lá e pra cá.
Nunca
houvera parado num povoado tanto tempo desde que o destino o empurrou
para as
estradas a caminhar;
e
buscava um lugar por ali pra ficar;
tinha
que arrumar um lugar para a semente. Primeiro arrumaria um trabalho;
com o
dinheiro do trabalho compraria terra para então poder plantar a semente.
Mas
estava difícil de arrumar trabalho; e muito mais por causa da semente
que
levava consigo onde quer que fosse.
E muitas
portas batiam-se-lhe ante o nariz. Mas não perdia a esperança.
E a
semente dava-lhe uma renovada vontade, muito embora.
A
semente já fazia parte de si, como um amuleto, um carma... Fosse para vencer ou
perder, ficaria até o fim com a semente.
E era
assim desprezado no povoado. Ninguém com Zé Firmino conversava; nem muito menos
o ajudava;
nem seu
nome perguntavam.
E mesmo
aqueles que não temiam a semente ousavam com o Zé Firmino conversar,
para que
não ficassem assim mal-vistos, e caíssem também no desprezo do povo,
pois o
povo acreditava que a maldição afetava também aqueles que se envolvessem
com
alguém ligado a tal semente; por isso preferiam ficar afastados.
E assim
ia o Zé Firmino vivendo tais dias; e dormia na porta da igreja.
E mesmo
o padre esquivava-se de lhe falar...
O Zé
percebeu certa vez
quando
lhe ia perguntar sobre a semente. Apenas respondeu-lhe muito apressadamente,
sem nem
olhar no Zé e sem parar de andar apressadamente, que o Zé deveria abandonar a
semente e esquecer;
que
aquilo lhe estava causando um feitiço obsessivo ,
o que poderia
em muito lhe fazer mal... E continuando a andar com pressa, qual fugindo das
inquirições do Zé,
não lhe
deu mais ouvidos, deixando o Zé a falar sozinho.
O Zé
então decidiu deixar quieto...
Porém
tomava diariamente a sopa
que a
igreja servia aos indigentes da cidade. E numa madrugada, já indo para se
turvar,
Zé
Firmino despertou com uma estrela riscando o céu; e a estrela viera a cair
adiante ali na sua frente,
lá por
um arredor do povoado;
então
levantou-se e se foi em direção ao local onde vira a estrela cair;
e quando
chegou lá já era dia completo.
E o
local era bem a uns três quilômetros do povoado;
e
carregando a pesada, estranha e controversa semente... Mas não encontrou a
estrela que vira ali cair;
porém
estava certo de que a estrela caíra bem ali;
e então
aquele pedaço de terra lhe ganhara um brilho especial; e como era
terra-de-ninguém resolveu que ali se iria fincar; então a primeira coisa que
fez foi enterrar ali a semente;
e após
fincou uma comprida vareta para marcar; adentrou a mata para pegar madeira;
e de
madeira fez um cercado para aquele chão; e diariamente molhava a semente;
e
continuava adentrando a mata para pegar madeira; e de madeira construiu também
uma casa;
e
continuava diariamente a tomar a sopa da igreja;
e o povo
estranhava que já não carregasse a semente, mas ainda assim desconfiado temia
dele se aproximar. Mas um dia alguém, vencido pelo desejo da curiosidade,
perguntou-lhe o que se fora feito da semente;
e então
o Zé Firmino respondeu o que se sucedera; e logo o povo ficou sabendo do fim da
semente;
e as
opiniões eram as mais variadas:
uns
contra, outros a favor, uns indiferentes... E até cogitaram de expulsarem-no da
cidade;
pois a
semente poderia atrair muitos males para o povoado.
Mas o
delegado afirmava que nada poderia fazer para expulsar dali o homem da semente,
pois ele
não houvera cometido crime algum; o padre nos sermões da missa apregoava
que não
se deve intrometer-se nos desígnios de Deus, que tal crença numa semente era
prova de falta de fé, e que caberia a cada um orar e voltar-se a Deus,
e não
esperar nenhum mal, nem da semente nem de nada: “...Orai e nada haverá que
possais temer...”;
o
prefeito dizia que o homem da semente era um cidadão, e como tal não poderia
ser molestado,
e todo
mundo tem direito de viver em paz, independentemente de credo , raça ou
ideologia,
e que o
homem da semente vivia em terra de ninguém. Então resolveram deixar quieto o
homem da semente;
e o
homem da semente ficou famoso no povoado; e regava a semente diariamente;
e a água
buscar num riacho que passava adiante, a bem uns dois quilômetros dali;
e
carregava diariamente latas d’água na cabeça. Resolveu começar a cavar um
buraco;
e este
buraco tornou-se uma benéfica fonte, de água fresca, boa e abundante;
e não
mais precisava caminhar tanto com a lata d’água na cabeça.
Também
arou sua terra e plantou muito aipim; na sua cozinha fez um eficiente fogão de
lenha; e de madeira construiu mesa, cadeira e cama; e fez colchão e travesseiro
de palha seca.
A
semente demorou a brotar mas brotou; e nasceu uma tenra plantinha;
a
plantinha enfrentou muitas intempéries:
seca,
tempestades, formigueiro, mas vingou; já era uma plantinha de bem uns dois
metros; Seu destino era tornar-se numa grande árvore.
Zé
Firmino já vendia aipim e coisas outras que plantara: tomate, quiabo,pimentão e
hortaliças;
e como
trabalhara bem seu roçado,
o que
era motivo de admiração da gente dali, era chamado volta e meia para serviços
de roça: roçava, limpava, arava, plantava e dava dicas;
muita
gente já havia esquecido do caso da semente,
mas
havia ainda quem acompanhasse a vida de Zé Firmino, de longe,com expectativa do
que lhe iria acontecer;
mas, a
despeito de todo o mal presságio sobre a semente, a vida de Zé Firmino parecia
progredir:
até
cavalo e roça Zé Firmino já possuía.
Isso
levava o povo a refletir
que nem
sempre se é como a maioria acredita.
Mas
havia ainda quem acreditasse que a semente era maléfica,
e algo
de muito ruim ainda aconteceria na vida de Zé Firmino.
Um dia
apareceu no povoado uma mulher, com um filho já andando e um outro no colo;
e pedia
esmola, comida, trabalho, abrigo, ajuda; e contava que abandonara a sua casa;
que seu
marido tornara-se alcoólatra e violento; e batia nela e nas crianças, e
passavam fome; então tomou a decisão de se ir embora...
E no
povoado alguém falou-lhe do Zé Firmino;
e a
mulher e as crianças foram bater-lhe à porta; para oferecer-lhe seus préstimos;
e Zé
Firmino deu-lhe abrigo e comida; e ela era boa com o Zé Firmino;
e lavava
a roupa de Zé Firmino;
e fazia
boa comida para Zé Firmino; e limpava a casa de Zé Firmino;
e
ajudava Zé Firmino em tudo;
e era
boa em tudo para Zé Firmino;
e os
filhos dela eram bons com Zé Firmino;
e o Zé
Firmino por fim a tomou como companheira, a dormir consigo em sua cama;
e assim
Zé Firmino já tinha até família.
Passaram-se
anos sem nada de relevante acontecer... Aliás Zé Firmino prosperava mais e
mais;
aumentou
em muito o tamanho da Terra-de-ninguém; e era agora quase como uma fazenda;
nela Zé
Firmino plantava de um tudo; e já possuía muitos animais também;
e de um
tudo que o Zé Firmino plantava
sempre
tinha algo no ponto para colheita e venda; e Zé Firmino distribuía para vários
mercados, inclusive para mercados de povoados vizinhos;
vinham
comprar nas mãos de Zé Firmino;
e Zé
Firmino já tinha também seu próprio armazém; e Zé Firmino ficava mais e mais
rico;
Zé
Firmino construiu casa moderna na Terra-de-ninguém, nome que acabou sendo o
daquela propriedade, daquelas de dois pavimentos e varandões
em todos
os lados da casa;
portas e
janelas amplas, paredes brancas; e tudo era um luxo na casa do Zé:
televisores
modernos, DVDs, home theater, sons, computadores ligados à internet,
telefones
celulares, energia solar, antena parabólica e tudo o mais
das
maravilhas da tecnologia de ponta; os filhos da esposa de Zé Firmino estudavam
na melhor escola do povoado;
e quase
ninguém lembrava mais da semente; e daqueles que lembravam
as
opiniões eram ainda controversas;
havia
quem acreditasse que algo ainda haveria de acontecer; e havia quem acreditasse
que não se deve confiar
nas
crenças populares, que são fantasiações,
visto
que a história do Zé Firmino desmentia muita coisa do que se falava sobre a
semente,
afinal
tamanho progresso jamais se houvera visto, naquele pobre povoado,
E olha
que ali o Zé chegara apenas com a tal da semente. Mas quase ninguém comentava
mais.
O que
ficava em resumo da história do Zé por ali É a de um homem que chegou como
indigente
E que
com muito trabalho se tornara rico.
E da
semente quase ninguém mais ousava falar...
Da forma
como se concebia não estava acontecendo. E a árvore? Bem, a árvore já ia a uns
seis metros; grande, de copa larga, frondosa, diferente;
já era
notada a boa distância;
e
pessoas que passavam em frente à propriedade do Zé Firmino paravam e ficavam
admirando a árvore;
e muitos
não resistiam à curiosidade de perguntar; mas o Zé não sabia informar;
dizia
apenas que era uma árvore rara; mas que não sabia qual era o seu nome; gente
inclusive fotografava a árvore;
e outros
pediam para serem junto a ela fotografados. E assim se passavam meses e anos...
Os
passarinhos eram muitos atraídos pela árvore; e cedo na manhã era uma cantoria
diversificada dos vários passarinhos ali naquela árvore.
E
quantos passarinhos já nasciam na árvore do Zé !? Quantos passarinhos não
escolheram a árvore do Zé para fazer seus ninhos e procriarem?!
Os
filhos da esposa do Zé já grandinhos
fizeram
gangorra e brincavam horas e horas e horas na gangorra
juntos
com colegas da escola que lhes iam visitar pela árvore.
Assim
também eram os filhos de conhecidos comerciantes
de quem
se tornaram amigos e que também eram atraídos pela árvore.
Zé
Firmino também recebia muitos amigos, principalmente em fins de semana e
feriados;
e
ficavam sob a sombra da árvore a se divertirem; e eram mesas e cadeiras; churrascos e bebidas;
e muitas
prosas; e muitas histórias; e muitas risadas. E no dia- a-dia da sua vida,
apesar
de se ter ficado muito rico,
ainda
pegava por gosto e prazer na pá e na enxada; e arava aqui, e limpava ali, e
trabalhava;
e quando
cansava ia descansar na sombra da árvore; e deitava de papo pro ar sob sua
copa;
e ficava
dali apreciando as folhas balançarem-se ao vento; coisa de que já gostava;
chegava
a cochilar ali e a sonhar;
parecia
estar no céu, e seus pensamentos se elevavam; desta forma também via os
passarinhos pousarem; via os passarinhos partirem;
via os
passarinhos saltitarem de galho em galho na árvore; via os passarinhos a
cantar;
via o
céu entrecortado pela folhagem balouçante.
E quase
sempre após o almoço
ia o Zé
fazer a cesta sob a árvore.
E então
ficava a balançar-se na rede
que
pusera sob a copa da misteriosa árvore. E assim se iam passando meses e anos;
e a
árvore ia crescendo mais e mais.
Um dia o
Zé estava assistindo ao programa “Mistérios do mundo”, que mostrava coisas
incríveis, e que respondia a perguntas também;
e então
o Zé Firmino resolveu saber sobre a árvore;
e mandou
para o programa uma fotografia da árvore;
e com
ela perguntas sobre a árvore:
seu nome
científico, tempo de vida ,etc.; tudo o que se pudesse saber sobre a árvore.
O
apresentador ficou deveras espantado com aquilo, pois os cientistas consultados
acreditavam
que não
existiam mais daquela árvore; ou mesmo que nunca houvesse existido;
pois no
Livros da Antiguidade registrava-se que quando se começaram as civilizações
contava-se a história de uma certa árvore
que
trazia todo o tipo de desgraça a quem próxima a ela vivesse; e o nome da árvore
era Árvore do Destino;
e por
isso em todo o lugar derrubaram as tais árvores, pois ninguém queria atrair
desgraça para si;
e assim
a árvore teria sido erradicada.
A
história nunca foi comprovada cientificamente; parecia uma das muitas lendas
humanas;
mas,
agora era de fato de espantar,
pois a
forma da árvore na fotografia
condizia
perfeitamente com uma ilustração da árvore, que havia no livro das
antiguidades.
Então
tal árvore existira? Quer dizer, existe mesmo? Isto é realmente incrível!
Anunciava pasmo.
E então
o apresentador aprofundou-se ainda mais,
com as
informações contidas no tal Livro da Antiguidade, sobre a tal Árvore do
Destino.
Dizia
que ela trazia as maiores desgraças a para quem a possuísse;
para
quem a plantasse; para quem a cultivasse; ou mesmo para quem vivesse próximo a
ela;
dizia
ainda que a tal árvore dá apenas um único fruto durante toda a sua longa
existência;
e que
tal fruto é enorme, como é também a semente; e que seu fruto é tão delicioso
que quem
come uma vez
deseja
comê-lo sempre mais e mais;
e que a
isso se atribui um poder enfeitiçador; pois a pessoa poderá ficar louca
se não
comer mais e mais do seu fruto;
diz
ainda que é justamente quando a árvore dá seu fruto que começam a acontecer as
desgraças
na vida
do dono da árvore,
e na
vida das pessoas próximas, ou com a árvore envolvidas; e então alertava o Zé
para que ficasse de olho.
Dizia
ainda que acreditavam que a semente era parte do mal; e que poderia ter vindo
de outro mundo; ou de outro planeta; mas havia também uma alusão a que
a árvore
apenas cobrava os pecados das pessoas; das pessoas com ela envolvidas;
pois
nada passava despercebido pela árvore;
e que
nesse sentido ela seria uma purificadora das almas; pois seriam as tais
desgraças a forma de pagar os pecados, purificando-se desta maneira.
E
prosseguia dizendo que porém nunca se soube
da
existência real desta tal árvore;
e que
antigos interpretadores haviam atribuído a tudo isso fantasiações;
e que
esta árvore seria alguma planta venenosa da flora, ou ervas de poder
alucinógeno.
Porém
estavam todos estupefatos com aquela fotografia, e concluía dizendo que
cientistas e pesquisadores
já se
organizavam em caravanas
para
verem a tal árvore de perto e estudarem-na.
Zé
Firmino ficou muito impressionado com tudo aquilo; mas não tanto que o tirasse
do normal,
e o
fizesse mudar a sua rotina de vida;
para ele
tudo continuava envolvido no mesmo mistério; e decididamente iria conservar a
árvore;
a qual
lhe dera todo um sentido à sua vida; ademais, tudo eram apenas especulações;
e que
desgraça pior poderia mais lhe acontecer?
Mas quem
ficou com a pulga atrás da orelha foi a mulher do Zé Firmino, abalada em susto;
e passou
então a pensar sobre o que decidir fazer.
O fato
de a árvore ter sido tema daquele famoso programa fez com que muita gente se
sentisse atraída a vê-la;
e o
povoado passou a receber muitas visitas;
e muitas
vinham em caravanas para ver a árvore e fotografá-las;
e
vinham, biólogos, botânicos, especialistas, estudantes, estudiosos;
e todo o
tipo de curiosos que chegava diariamente; e gente até bastante mudou-se para o
povoado; para acompanhar a história do Zé Firmino de perto. E a cidade
construiu hotéis; e se vendia muitos cartões postais da árvore; e veio
gente
até do estrangeiro;
e a
cidade cresceu muito, e muito progrediu; e o Zé ganhou título de cidadão do
povoado;
e todos
- políticos, comerciantes,etc. - estavam orgulhosos dele; o Zé colocara o
povoado no mapa do mundo;
e o Zé
ampliou em muito os seus negócios; e ia ficando ainda mais e mais rico;
até
folhas caídas da árvore vendia. E a árvore estava enorme, gigante;
bem de
longe já era vista, destacando-se na paisagem; e bem de longe se falava
apontando:
“aquela
é a Árvore do Destino de Zé Firmino...”
E assim
foi que Zé Firmino ficou famoso em todo o mundo, e sua propriedade recebia
visitantes ininterruptamente.
E assim
foi que o ex-prefeito da sua cidade descobriu onde estava o Zé, enfim;
pois
jurara que se oportunidade houvesse o mataria; pois no que mexera com sua
filha, a fizera engravidar; e para evitar escândalo maior,
induzira
sua filha a um aborto,
mesmo
contra a vontade da sua progenitora;
e no que
abortara sua filha morrera;
e teria
o Zé Firmino que “ pagar o mesmo preço”, jurara o ex-prefeito da sua cidade.
E
resolveu o ex-prefeito ir morar uns tempos no povoado onde o Zé Firmino fincara
pé, à espera da boa oportunidade de vingança.
Desde o
tempo em que o Zé Firmino viera para o povoado até então
O Zé
havia enterrado muita gente,
e muita
gente havia visto nascer também uma delas foi o filho do Sr. Libório,
riquíssimo e poderoso comerciante da região, além de fazendeiro de vastas
terras;
e o
filho do Zé Libório nascera com um sinal, que era como uma estrela de cinco
pontas;
e tinha
uma pele de um branco muito diferente; quase que branco como papel;
e tinha
o cabelo de um amarelo muito diferente;
um
amarelo parecendo o mais puro ouro encarnado;
e tinha
os olhos de um azul muito diferente; azul que variava entre o claro, o escuro,
o
celeste, o marinho, o acrílico;
e era
motivo de muito comentário na cidade; acreditavam que era um menino sagrado;
enviado; prodígio; até mesmo um messias;
e que
deveria trazer alguma revelação; alguma boa nova; e então o Sr. Libório decidiu
que seu filho
iria ser
criado livre e à vontade, como qualquer menino do povo, para viver como o povo,
até que
se lhe aflorassem as suas reais aptidões; até se fazer conhecida a sua sagrada
missão.
E assim
estava sendo.
O menino
sagrado tinha o nome de Clarinaldo, e brincava também com os filhos do Zé
Firmino; e as brincadeiras eram subir e descer na árvore,
Gangorra,
rede , jogos na mesa à sua sombra, entre outras. Um dia Clarinaldo resolveu
subir à árvore com um facão para tirar uma forquilha para matar passarinhos;
mas,
lamentavelmente se desequilibrou; e despencou da árvore, de muito alto,
onde
buscava uma forquilha perfeita para o badogue; e caiu de um jeito tal sobre o
facão
que este
transpassou-lhe o abdômen. Foi uma comoção total;
todos
gostavam do menino e até esperavam nele; acompanhavam a sua vida com
expectativa; principalmente o pai, todo orgulho.
O Sr.
Libório não se conformava; não aceitava;
como
podia seu filho sagrado morrer de forma tão estúpida? E não aceitou os pêsames
de Zé Firmino;
e nem
permitiu que ele e a família fossem ao enterro; estava de fato com muito ódio
do Zé;
e o
responsabilizava pela morte do Clarinaldo;
e a
partir de então cortava as relações com o Zé; e assim , todos os bons negócios
também.
A essa
altura já havia muita gente relacionando
a
desgraça do filho do seu Libório à maldição da árvore. “Mas... e se o fruto
ainda não estava sendo dado...?” ; “... mas será que não
?” ;
“...
podia estar em algum lugar escondido...!”
Grupos
de estudiosos que o Zé permitiu que acampassem em sua propriedade para melhor
estudar a famosa árvore convenceram-no a construir uma escada ao longo do
tronco da árvore
para
melhor então poder estudá-la; e assim foi feito; o Zé permitiu;
e após a
tragédia do filho do Sr. Libório resolveram procurar o fruto;
e
subiram a escada para procurá-lo;
e de
tanto procurar acharam-no. acabaram encontrando-o ainda miúdo; mas decidiram
não divulgar a notícia; e diziam não haver fruto algum;
na
verdade queriam comprovar a veracidade da lenda;
pois se
divulgassem sobre o achado do fruto, bem que o Zé poderia querer arrancá-lo,
para evitar as desgraças anunciadas;
então
resolveram ficar calados, acompanhando.
O
ex-prefeito, que já estava no povoado, estudava um jeito de pegar o Zé Firmino;
mas o Zé
estava sempre acompanhado de gente. Mas não desistia de agarrar a melhor
oportunidade de consumar suas intenções vingativas,
e um dia,
disfarçado de mais um curioso atraído pela fama da árvore,
adentrou
a propriedade do Zé Firmino. Ficou também impressionado com a árvore;
aquela
folhagem parecida com milhões de mãos caídas... Mas não estava ali para admirar
árvore alguma;
seu coração
pedia vingança;
e
estudava ali um jeito de praticar a sua ação fatal; mas enquanto não lhe vinha
uma boa oportunidade, resolveu pregar-lhe então uma grande peça;
e
retornou à propriedade do Zé Firmino
com uma
boa quantidade de esgoto do hospital;
o qual
vira estourado por detrás da rua erma do hospital; ao ver aquilo passou-lhe a
sórdida idéia na cabeça,
coisa do
seu ódio vingativo;
e na
mesma madrugada em que coletou aquela fedentina encontrou um jeito de jogar
aquela imundice
dentro
da cisterna do Zé Firmino,
após
cortar arames farpados da cerca do Zé, pelos fundos da grande propriedade do
Zé.
da
cisterna ia água para todas as casas das pessoas que moravam e trabalhavam na
propriedade do Zé Firmino,
inclusive
para a casa do próprio Zé. E logo logo teve efeito o misere;
os
trabalhadores, mulheres e filhos pegaram as mais diferentes doenças;
e muita
gente da cidade, que bebeu daquela água, de quando em visita à Terra de
Ninguém;
e até os
estudiosos acampados ali adoeceram; e tantos daqueles morreram;
e o Zé,
preocupado, mandou chamar todos os médicos; e custeou consultas exames e
remédios;
e,
descoberta a contaminação da água, custeou também a sua purificação.
E ficou
a imaginar quem teria patrocinado tal esculhambação; e não lhe saía da cabeça que
bem poderia
ter sido
da parte do Seu Libório.
Pior que
várias pessoas contaminadas morreram; e a contaminação passou para outros mais;
pelo ar,
pelo toque, e de outras formas mais; a cidade quase inteira adoeceu;
e muitos
de lá se foram amedrontados; e muitos na cidade morreram;
e o Zé
teve que custear enterros;
e pior
ainda: parentes das vítimas mortas e mesmo as vítimas daquele ato macabro foram
orientadas a entrar na justiça,
a
pedirem indenização por perdas e danos... E o Zé tornou-se às voltas com
advogados enquanto corria as tantas demandas;
e tudo
isso já dava um belo baque nas contas do Zé Firmino.
Mas
dinheiro muito ainda restava
apesar
de menos, por causa do Seu Libório, que cortara negócios com Zé Firmino,
e que
houvera convencido a muitos não fazer mais negócios com o Zé.
Em
solidariedade à dor do Seu Libório que era muito poderoso e influente todos
romperam negócios com o Zé.
E ficou
muita produção encalhada; muitas já apodrecendo;
e muitas
foram ao povo doadas.
O Zé
teria que buscar novas parcerias comerciais. Pior que muitos dos que ficaram
bons resolveram cair fora da fazenda;
o coelho
é quem mais ficaria mais ali; bem juntinho à árvore da maldição; já haviam
visto demais;
e
pediram indenização, alegando não ser justa causa, mas causa de doença e ameaça
de morte;
e lá se
ia dinheiro mais e mais do Zé;
e as
plantações, abandonadas, começaram a definhar; e mesmo com os anúncios que
colocara nos jornais,
ofertas
de emprego, moradia e alimentação...
A fama
da maldição da árvore impedia qualquer um; ninguém se apresentou para a tarefa;
não
tinha mais como tocar a plantação...
E quando
pensava na situação
pensava
que já não tinha antes nada mesmo; e que se já fora andarilho,
poderia
continuar a ser; o que lhe poderia afetar?
Que se
acabasse a plantação!’ Que se acabasse tudo até!
Porém as
folhas continuavam caindo... Como mãos desprendidas dos braços...
Agora me
pergunte porque
o Zé
Firmino não adoeceu, não morreu!
Ora,
dentre as maravilhas tecnológicas de ponta, As quais o Zé fazia muito gosto em
adquirir,
tinha o
Zé um moderníssimo purificador de água, o que salvou o Zé e a sua família,
que só
dali bebiam água, viciadas no gosto incrível em que o purificador fazia que a
água se tornasse; Zé Firmino resolveu puxar água do encanamento,
que há
algum tempo já havia chegado no povoado, pois assim não correria mais o risco
de outra vez tal desgraceiraacontecer.
A mulher
do Zé Firmino levou uma topada, e a tomou como coisa muito estranha,
o que
lhe deixou muito impressionada; acostumada a andar pela ampla residência,
jamais lhe houvera tal acontecido;
e tomou
aquilo como um aviso;
e se já
andava com a pulga atrás da orelha em função dos últimos acontecimentos.
Mas o
estopim lhe levou à sua radical decisão foi quando viu uma serpente
subindo
pelo tronco da Árvore do Destino,
E
resolveu envenenar Firmino.
Iriam
pensar que foi ainda da intoxicação, e então quando o Zé batesse a caçoleta
iria vender a propriedade a sua herdeira;
e seriam
as desgraças anunciadas que se faziam; e quando tudo estivesse consumado
iria
viver bem; e bem longe dali.
E bem
que tentara convencer o Zé Firmino a vender tudo e se mandar;
mas Zé
Firmino, obcecado, dissera-lhe que iria até o fim da história;
garantindo
não acreditar nas tais crendices: ignorancices do povo; que Deus é mais.
E o Zé
Firmino bebeu suco de mangaba com veneno; e baixou no hospital;
e lá
ficou internado;
e todos
acreditavam que era ainda da intoxicação, inclusive o ex- prefeito, acreditando
no sucesso do seu ato; e ficaram a sua esposa, o ex-prefeito e o Sr. Libório
torcendo
pela morte do Zé Firmino, e esperando. Mas Zé Firmino não morria;
e já
estava internado há bem um mês.
O
diretor do hospital fez questão de segredar-lhe que na verdade ele houvera sido
envenenado;
e
juntando isso ao fato de sua companheira ter se ido embora, coisa que logo
viera a saber,
e não
ter nunca querido lhe visitar no hospital,
não
podia deixar de concluir quem o houvera envenenado. E o Zé Firmino por fim
ficou bom;
mas comprou o dono do hospital
- ainda tinha
muito dinheiro na poupança - para fazer-lhe de doente ainda;
para
continuar ali no hospital;
enquanto
ali mesmo decidiria o que fazer.
Soube
que não tinha mais quase ninguém na fazenda, a não ser uns estudiosos e alguns
místicos;
e
atribuiu a fuga da mulher ao medo;
e
dava-lhe razão então, “ coitada”.
E o Zé
então, lendo o jornal da cidade,
soubera
que o fruto já vinha crescendo há uns três meses; época mais ou menos do início
dos funestos acontecimentos; os místicos haviam resolvido vender tal notícia
para os jornais, mesmo contra a vontade dos pesquisadores;
haviam
subido a escada e então visto o tal fruto; e haviam ficado também em silêncio
para
constatar a veracidade da lenda;
mas
tementes de mais desgraças resolveram assim fazer. Os estudiosos resolveram ir
embora também;
ao tempo
em que Zé Firmino resolveu, com a cobertura do diretor do hospital, espalhar a
notícia da sua própria morte; e logo providenciaram o falso enterro; muito
dinheiro o Zé gastou para isso;
mas
antes providenciara a venda da propriedade,
a qual a
própria prefeitura comprou a título de tombamento;
e o Zé
pôs tudo no banco;
e
providenciara o adiantamento dos processos jurídicos, sem as lenga-lengas
demoradas costumeiras,
e
consequentemente a sua inocentação por total e absoluta falta de provas;
para
isso molhou as mãos de juízes e advogados;
não que
o Zé fosse realmente culpado da fatal desgraceira, mas para apressar
definitivamente o desfecho da pendenga, principalmente que partes contrárias;
dificilmente
iriam ceder, interessadas que estavam nas gordas indenizações que o Zé iria desembolsar;
E,
claro, sobreviventes, familiares e advogados
não
iriam ceder facilmente sem recorrimentos intermináveis. Tiveram de conformar-se
com a decisão irrevogável do juiz; principalmente que o Zé “morria” logo
emseguida.
E o
caixão cheio de pedras foi enterrado. E ninguém vira o corpo do Zé ?
“Não !”
; “Era perigoso!” ; “Poderia pegar coisa
ruim!”;
asseveravam
os doutores do hospital.
E o Zé ,
antes de se mandar, resolveu que iria na madrugada, sem ser visto; mas antes de
ir passou na sua propriedade;
foi ao
seu cofre buscar dinheiro e jóias ali guardados; mas claro que não encontrou;
aquela
serpente venenosa lhe houvera roubado a pequena fortuna;
só a ela
houvera confiado o segredo daquele cofre... Maldita seja!
E subiu
à árvore e comeu o seu fruto;
e
experimentou o seu deliciosíssimo sabor; e o fruto era enorme;
e o Zé
ainda comeria dele vários dias;
e já ia
longe com uma nova semente do fruto; o Zé em seu carro ia dirigindo pela
estrada;
pelo
rádio ouviu a notícia de que haviam derrubado a árvore; o que foi considerado
crime pela prefeitura;
pois que
tinha destruído um rico patrimônio da cidade; e sem o fluxo de turistas a
cidade voltaria a ser pobre.
Mandaram
averiguar para descobrir o vândalo; mas nunca conseguiram descobrir
que foi
coisa do Sr. Libório,
que não
se conformava de ter perdido para a árvore o seu menino sagrado.
O
ex-prefeito voltou para a sua cidade, sentindo-se plenamente vingado.
E o Zé
Firmino foi para o centro da cidade de uma grande metrópole, morando
discretamente num quarto e sala;
mas
muito bem aparelhado com toda a tecnologia de ponta; e acompanhava as notícias
pela TV;
que
transmitia tudo quanto era canal;
o que
lhe permitia ouvir notícias da sua região e adjacências; e com o passar dos
anos que vivera ali
ouviu
notícia da morte do ex-prefeito;
e assim
pode saber também de notícia a mais incrível: a filha do ex-prefeito, com a
morte do pai,
pôde
finalmente reaparecer e declarar-se viva; pois é, sua morte fora uma armação de
sua mãe; com ajuda de parentes e amigos,
para
protegê-la e a seu filho da fúria do então prefeito, que jamais aceitaria tal
situação.
O
coração do Zé palpitou de indescritível emoção ao saber da existência do seu
filho; filho do seu amor e de Ana Carina;
também
assim toda a cidade ficou a saber das armações do então prefeito
juntamente
com o delegado e seus comandantes, e que o Zé sofrera tudo aquilo injustamente,
que não havia lobisomem nenhum.
O Zé
logo providenciou que Ana Carina e seu filho
viesse
com ele morar, numa casa grande e bonita que comprou; e também se casaram;
o Zé
enfim vivia a verdadeira felicidade; uma eterna lua de mel de amor;
e o
filho do Zé, Romeu, logo se afeiçoou pelo pai; e Ana Carina era a pura felicidade.
E assim
vivia uma família feliz.
Tempos
depois soube da morte do Sr. Libório; uma poderosa depressão o pegara de jeito.
Mais
adiante soube que viera a morrer aquela que havia sido sua companheira; o Zé
soube assim que ela estiva na cidade
a tentar
receber como herança a propriedade; o Zé sorria de ironia por dentro;
Ah, safada! Morrera arrastada pelo rio da cidade,
numa
grande enchente que arrastara uma ponte por onde passava... Seus filhos foram
entregues ao pai alcoólatra.
E o Zé
resolveu escrever toda aquela história que vivera;
e tinha
guardada consigo a semente; que lhe dava incentivo; e o Zé escreveu a história
em parábolas e símbolos;
e fez
muito sucesso; e vendeu muitos livros; e seu novo nome era João Mário Estrela;
festejado
escritor; contador de histórias incríveis;
entrou
para a academia; ganhou vários prêmios; e teve livros que viraram filmes;
e filmes
que ganharam Oscar;
ganhou
também o prêmio Nobel de Literatura. Porém escrevia um livro que seria o seu
póstumo; aquele que contava a sua história verdadeira e crua;
assim
como as suas impressões sobre tudo o que vivera; distribuídas entre as centenas
de personagens;
inspiradas
nas pessoas que conhecera na sua admirável vida. O Zé, já velho, adoecera
irreverssivelmente;
e após a
sua morte todos ficaram sabendo
que o
João Mário Estrela era na verdade o Zé Firmino; aquele da tal árvore
misteriosa;
e que
ganhara fama no mundo;
e que
estava morto e enterrado na sua cidade natal; Cumprindo sua vontade;
de ser
enterrado na cidade onde nascera;
Onde
tudo se começou a suceder na sua aventurosa vida.
E houver
pediu também que fosse enterrado com a semente. E então assim foi feito.
E tempos
após brotou a árvore do destino No meio do cemitério da sua cidade
E ficou
enorme e frondosa.
E já não
temiam a árvore misteriosa Porque apesar de tudo o que dela se falava
O Zé
Firmino havia mostrado que tudo era muito relativo Pois tivera uma vida muito
proveitosa
E tudo
por causa da semente que dera a árvore. E muita gente acorria à cidade do
finado Zé para ver aquela tão famosa árvore;
e a
cidade do Zé ficou rica e famosa;
e o seu
filho foi morar também na cidade; a cidade onde também nascera.
E era
também um homem bondoso
E
político dos bons; de grandes benfeitorias na cidade. Ana Carina, a viúva,
cuidava da Casa Do Zé Firmino;
onde
estavam pertences do Zé: livros, fotos, roupas;
o
computador em que o Zé escrevera seus livros famosos; e tantas curiosidades
mais;
e a Casa
do Zé Firmino era muito visitada pelos turistas. E sobre aquela árvore, fincada
no cemitério da cidade, e vista por toda a cidade e arredores, diziam
que ali
era o próprio Zé Firmino
Estes
são para os intrigantes viventes
que pelo
controversos que são em espécie, a mais numerosa,
diferentes
reações despertam, desde antipatia, aversão,
à
curiosidade, admiração, apreensão, temor, nojo
ódio e
desejo de matá-los. Geralmente indesejáveis,
mormente
repugnantes, de exóticas estéticas; estranhos, esquisitos
antenados,
exoesqueléticos ; muitos alados; artrópodes, hexópodes;
divinizados
no panteísmo, sacralizados na natureza, emanação de Deus,
o Ser
Todo Sapiente, Os polêmicos insetos.
Vistos
com isenção de parcialidade, são simplesmente inocentes criaturas, que à mercê
de seus destinos,
de
atender seus instintos,
sendo fiéis
à sua condição, ecossistematicamente envolvidos, sanguinolentos ou
vegetarianos, apreciados por seus predadores: répteis, anfíbios, aves,
e mesmo
por alguns de seus pares, e alguns até por alguns humanos; tantos nem tão
nocivos,
tantos
nem tão peçonhentos, alguns até benéficos,
vide a
abelha e seu caro e doce mel, geléia real e própole;
exemplo
de vida em sociedade, de organização social;
e o
bicho da seda ? fase intermediária
de um
dos que tratamos aqui,
que nos
dá tão nobre, fino e apreciado tecido!
São as
borboletas encantadoras, nos maravilham as vistas, perfeita harmonia com as
flores, interessantes;
não nos
fazem indiferentes as mariposas, noturnas, em lúgubres asas,
mas asas
merecidas,
no fim
nos ganha a simpatia;
as
formigas, incansáveis trabalhadoras, fortaleza da união;
as
tanajuras são engraçadas de bum-buns avantajados;
o
gafanhoto, de status bíblico: alimento de profetas no deserto, mesmo que muitos
pragas em nuvens, devastando plantações; e o louva-deus, imponente,
parece
viver louvando aos céus mesmo,
é
impressionante de ver;
a
viuvinha quando nos pousa na camisa traz - nos um íntima satisfação,
como se
fôssemos bem escolhidos, pois dizem até que dá sorte.
E a
esperança?
Que bela textura de verde?
E a
Joaninha? De tegumento colorido? Conchinha rubro- negra, auri-negra,
verde-negra? E a libélula de vôo leve e gracioso
Parecendo
até um aviãozinho teco-teco? Quem sabe até o inspirou?
Tem um
que é um fino graveto vertical, eu nunca o vi,
mas sobre o qual já li.
Outros nos
chamam a atenção por nos invadiremos ouvidos com seus sons característicos. No
verão crepuscular, a cigarra,
oculta
no alto de uma árvore, soa seu som estridente,
que traz
lembranças da infância; o grilo, de perto dá nos nervos,
se
dentro de casa ninguém agüenta, azoando mente a dentro...
E
difícil é achar o danado! Porém lá de longe na mata seu som soa até agradável,
parecendo
interagir com os nossos pensamentos; mas o besouro, de potente zunido,
a querer
nos levar ao pânico
na sua
aparição repentina, ameaçadora, parecendo um pesado helicóptero de guerra...
Por nele falar, lembro dos terríveis,
a parir
dos nojentos e escatológicos, pois já o vi chafurdando naquele troço! Ojeriza à
barata,
desconfiada
da sua culpa, logo que nos vê se esconde,
e mete-se
nos mais escrotos lugares! Só uma sandália mesmo!
à mosca
e sua indiferença,
Ô
bichinha abusada e renitente... E aquela do sono então?
Longe
daqui !
E os
mosquitos dos excrementos e feridas? Terríveis também os destruidores:
os
cupins chegam a desabar uma casa, comendo a madeira da cumeeira, destruiriam os
móveis todos de uma casa... E as terríveis traças?
Tão
avessas aos livros,
destruiriam
uma biblioteca inteira!
Carunchos,
fujão, gorgulhos cujas lavas danificam plantas,
os
pulgões...
Mas,amaldiçoados
os que picam ! Uns lamentavelmente fatais,
qual o
da febre amarela, Anófele da malária,
o Aedis
Aegpti da dengue, culese, filariose, inseticida ! Morte a todos! Seres
infenais,
a
começar pelas irritantes muriçocas, responsáveis por noites insones
e
sentimentos intensos de raiva, ao muruim ranzinzento
passando
pelos danados moibundos;
a pulga,
que abusa tanto os pobres cães, tal qual o carrapato e os percevejos; aqueles
de mordedor em forma de alicate, como são imundinhos !
Incômodas
beliscadas sugadoras ! Assombroso o barbeiro,
noturno,
sorrateiro, matador ! Mesmo o bicho do pé, chamado de tunga...
dizem
até que dá boa coceirinha, mas o melhor é removê-lo.
Vige!
Sai!
Quantos
mais existem
que nos
são desconhecidos?
Prato
cheio para os entomologistas...
E
quantos mais catalogadas em laboratórios: o tavão- besteiro, o hipoderma,
a larva
de pulga, o poliergo rágio, o bóstrico, a carpacapsa a dorífra e tantos mais
que se
fôssemos enumerar
de um
compêndio especializado, seriam centenas de versos a mais Neste discorrimento.
Às vejo
uns inéditos,
pois que
nunca houvera visto antes: um voador colorido belo, parecendo mesmo plumado;
alguns
caminhadores, alheios a todos, que nota-se logo serem inofensivos; uns são
mesmo charmosos, simpáticos, despertando certo encantamento;
mas uns
já vi incomuns,
que
despertam certa desconfiança, e, pelo sim, pelo não,
ai deles
se não se põem fora a tempo.
Parece
que à medida em que vivemos mas insetos vamos conhecendo.
Mas, a
despeito de tudo,
são
mesmo dignos de respeito e até admiração,
pelo que
são, sobreviventes fortes na evolução,
resistindo
até aos nossos tempos... também a despeito dos maléficos, dizem até que somos
os
piores seres sobre a Terra,
pois
fazemos o mal conscientemente, diferentes dos pobres insetos,
que são
irracionais
e apenas
seguem seus instintos animais.
Quem
negaria ser verdade? Cada um veja em si até onde é.
Sem
querer me fazer de santinho, O melhor mesmo é ser bom,
escolher
o caminho do bem, mesmo em situação adversa, buscar riqueza espiritual.
Porque
às vezes somos mesmo ruins, tão ruins,
ruins mesmo,
praticando
os piores atos, merecendo bem mais
do que
uma molestaçãozinha de inseto
Ora
elaboro versos bélicos,
nos
quais sobre tal tema discorro, suscitando uma inerente reflexão, atitude que
nos é um tanto incomum, sendo um tema que mais nos afugenta
do que
nos convida à contemplação, principalmente num texto literário, que se propõe,
como tal, artístico,
o que
pressupõe caráter estético; e tão difícil como uma “Guerrnica” é coordenar
guerra e beleza,
a
primeira tomada então
da forma
simplesmente concebida, tão horripilante o que no sentimento é suscitada
por esta última.
Também é
difícil que nos ocorra questionar, pelo que impõe-se por si só,
tão
presente à ordem do dia,
que se
coloca num grau de normalidade, tão entranhadamente inserido no contexto.
Entretanto,
visto que o belo artístico
não é
apenas necessariamente o que é bonito, mas sim o que é humano, profundo;
o que
nos induz à contemplação,
pelo que
nos toma em arrebatamento, por tão contundente realidade sugerir. Declino-me
sobre o tema,
ou
talvez sob o tema,
a título
de irrecusável inspiração e de necessidade de expressão
sobre
tão aflitiva e angustiante questão. E por aqui então me inicio,
buscando
talvez um entendimento para manifestação paradoxal,
pelo que
em si a morte promove como objetivo a
ser atingido,
o que
assim é tão avesso à natureza, cujo instinto busca a vida preservar;
ou esse
instinto mesmo de sobrevivência estaria na explicação das razões da guerra?
Assim,
me inicio pela definição, qual nos determina o dicionário, deste termo não tão
restrito ,
para
então tentarmos o entendimento, pelo que
possamos ler nas entrelinhas, e assim chegarmos a uma conclusão,
e quem
sabe até propor soluções;
e que
possamos divagar no discorrimento,
visto
tratar-se de tema com tão múltiplos aspectos, e que de certa forma nos nébula a
lucidez,
natural
será que a mente torne-se inebriada ,
e que o
pensamento tome caminhos inesperados, com imaginações, sonhos, delírios.
Assim
temos que é a guerra luta armada entre nações
por
terras, dinheiro ou idéias, como é também campanha, luta , arte da milícia.
constatamos
então que é a guerra
os
homens a destruírem-se uns aos outros por uma razão qualquer que seja. também assim nos sugere ser um dom para
o qual muitos têm natural inclinação, ou como se explicaria um militar,
tão
encarnadamente tal
que é
difícil imaginá-lo um monge, por exemplo.
Quiçá
seja deveras a guerra
fato
mais que normal na natureza humana, como a antipatia, a aversão ao outro
que às
vezes aflora até sem explicação de dentro da essência sentimento.
Pois
desde os princípios que se guerreia: os índios guerreavam entre tribos;
nos
remotos tempos bíblicos Caim matou Abel;
gregos e
troianos já se degladiavam,
como
atesta a clássica literatura. De fato a razão da guerra confunde-se na sua
gênesse
com a
própria origem do homem. Remonta ao mistério de si.
É o lado
mais insano da humanidade, em oposição ao seu lado mais sensato;
a
apoteose em cena do seu lado primitivo, do seu lado selvagem,
que
repousa no mais recôndito e si; que impetuosa e irrevogavelmente eclode num
espetáculo repulsivo. São os congênitos defeitos humanos levados às últimas
conseqüências,
tantos e
tão graves são em pertinência ,
quais
sejam prepotência, arrogância, orgulho; insensibilidade, incompreensão ;
vingança; ignorância; soberba; ambições;
presunções
de superioridade; intolerância; cobiças de riqueza; ímpetos de dominação, de
escravização de uns por outros.
Daí
formam-se os conflitos inevitavelmente, por fundamentações tais , as mais
variadas: políticas, econômicas, religiosas, territoriais, que chegam-se a
dilemas cruciais,
a
obstáculos intransponíveis, agravadas por ações terroristas das diversas
facções do mundo. E ao passo em que progride científica e tecnologicamente, o
homem espiritualmente
não
demonstra o mesmo progresso,
fazendo
denotar ainda mais o seu lado primitivo; não regredindo em seu lado animal.
a guerra
parece algo ao homem latente, como a paixão, o orgulho, a vaidade,
e outros
tais sentimentos nocivos, tão aberrantemente cultivados.
São
sentimentos inerentes ao ser racional, mas que não consegue sobrelevar-se,
a ponto
de se anular em sua mesquinhez; de ver-se tão pequeno nesses sentimentos. Ao contrário,
é cada vez mais ignorante,
e
colocam suas conquistas incríveis a serviço dos sentimentos inferiores.
Quem
sabe é o tal do instinto de morte, a guerra,
vista mais investigadamente.
É mesmo
talvez independente do querer humano, e acontece por existir por si mesma, a
guerra, visto a guerra que já vem de entre Deus e o Diabo. Mas se o homem, quem
sabe, poderá exterminá-la;
se um
dia seremos evoluídos e educados para tal, desmentindo os filmes de ficção
científica,
que
perpetuam o homem na guerra,
ou a
guerra no homem, pelos milênios afora,
pela
inesgotável eternidade
é tão
desejado quanto irrespondível .
Mas é
acentuado o avanço humano, científica e tecnologicamente,
e pela
irrefreável marcha, paralela ao crescentes conflitos e defeitos de sentimentos
, não é difícil mesmo imaginar
uma
guerra envolvendo todo o planeta, se não a terceira ou a quarta,
mas a
quinta ou sexta, quem sabe...
Pois
dentre as armas terríveis do avançadíssimo progresso, quais bombas
ultra-avançadas, de devastadores efeitos
não
fariam tremer o mundo, explodindo às centenas
nos
quatro cantos do globo,
com seus
ensurdecedores abalos ?
Seria
possível um estrondo de tal forma potente
que
desorbite a Terra fazendo-a desgovernada espaço sideral a dentro atestando de
tudo o fim ? Quem há de duvidar?
Na
verdade às vezes duvido. Que a Terra é muito enorme para que um tal estrondo
cause
impacto de tamanha conseqüência. Mas depois eu penso que é também enorme a
inteligência e a maldade humana.
É
acentuado o avanço humano, científica e tecnologicamente.
Quem
dera fosse apenas para o bem
o
progresso soberbo que temos alcançado.
Mas
graças ao seu ódio incontido tal avanço irreversivelmente canaliza-se também
para o mal,
para a
destruição de uns pelos outros; a destruição de si por si mesmo,
pelas
armas ultrapoderosas e bombas ultra-avançadas.
E qual
um filme de ficção científica desenrola-se de forma inevitável
As
prévias cenas de uma guerra não desejada. E difícil não é a mente imaginar,
pelo que
traça a humanidade em seu destino, uma guerra vinda do mais alto grau;
da
animalidade primitiva humana,
fazendo
uso da mais refinada tecnologia,
com
aquelas bombas de devastadores efeitos, com poderes de fazer desmoronar
montanhas, com altíssimo poder de destruição
em raios
de quilômetros de distância, varrendo árvores, prédios, gentes,
na
apoteótica guerra,
a mãe de
todas as guerras;
com
aviões explodindo e caindo dos céus, com navios explodindo e afundando no mar;
casas indo pelos ares,
bem como
fábricas, indústrias, usinas, minas; aeroportos, portos, estações...
E das
bases de lançamentos tais bombas, mísseis, artefatos nucleares mais e mais a se
lançarem incontinentemente;
e no
alto céu então se veem viajando
ante os
olhares estarrecidos, assustados, atônitos;
programados
e monitorados, viajando nas várias direções,
teleguiados
para alvos pré-estabelecidos, as grandes cidades do mundo.
Muitos
porém sendo interceptados no ar, por engenhos antimísseis,
provocando
explosões no espaço, estrondos cabulosos,
e chuvas
de gigantescas faíscas causando em muitos a cegueira, pelos clarões
incandescentes...
E assim
a destruição sendo propagada, com bombas infernizantes
a
transformar tudo em pó
em
quilômetros de raios de distância; e bombas exalantes de gases tóxicos, de
efeitos os mais letais,
substâncias
químicas de efeitos nefastos,
que
inalados pelas gentes,
a
tirar-lhes de imediato o senso, fazendo-as loucamente ensandecidas, cometendo
suicídio às centenas
e
matando-se uns aos outros, concidadões, amigos, parentes, sem razão nem porquê,
instaurada
assim a insanidade coletiva, com brigas e lutas corporais,
as
pessoas se agredindo mutuamente, e a mesma loucura incontrolada,
acometendo
presidentes, generais, comandantes; e mais e mais ordens de ataque,
e mais e
mais botões apertados,
e mais e
mais lançamentos das bases dos artefatos mortais,
a
viajarem pelo alto espaço,
e mais e
mais nações sendo atingidas,
e mais e
mais nações sendo envolvidas, e lançando muitas outras em resposta,
e assim
sendo envolvidos todos os povos, e toda a sanha louca da monstruosa guerra
destruindo a tudo e a todos,
com a
força de ventos fortíssimos que de repente soprasse varrendo toda a superfície
do globo terrestre, como se tantas catástrofes acometessem a um só tempo,
tempestades,
trovões, redemoinhos, tornados; terremotos, maremotos, furacões, enchentes;
vulcões de todo o mundo em erupção; derretimento das calotas polares;
destruição
da camada de ozônio,
fazendo
bem mais aquecido os raios o sol.
E em
meio a esse pandemônio generalizado, muitos nesta hora a clamar pelos céus;
enquanto
muitos outros a se resignarem dos seus erros conscientes,
aceitando
o fim,
por não
merecermos outro fim, por termos buscado tal fim;
e outros
a se rebelarem contra Deus, e a Deus culpar por tudo;
e tantos
mais a dar graças a Deus, por este enfim mostrar-se em fúria dando o castigo
merecido,
e
fazendo cumprir suas promessas de destruição.
E em
meio ao caos
do
pandemônio generalizado
os ecos
terríveis de u ma sinistra sinfonia de terríveis e escabrosos gemidos,
entre os
escombros, mortos, mutilados, e membros de corpos espalhados ,
a
tétrica e assombrosa cena.
Literalmente
o fim do mundo.
Mas pode
realmente o mundo
acabar-se
nesta guerra desproporcional se na escalada do progresso
científico
e tecnológico
os
avanços são peremptoriamente canalizados para armas mais e mais modernas,
poderosas e horrendas.
Uma
guerra aqui , outra ali, acolá, alhures, algures, mas nenhuma nenhures.
Nos seis
continentes,
sem no
entanto envolver todos os países, guerras que se vão procurando
resolver
politicamente,
enquanto
os terroristas infernizam. Mas ocorrendo o conflito mundial,
com o
uso de tais armas,
da forma
como aqui descrito, não é absurdo prever
que em
uma semana o ar fique tão impuro
que
torne-se irrespirável, tomado de veneno letal, Que tudo torne-se escarlate,
marrom , cinza, negro; que a água perca o cristalino; que a Terra perca o viço
do verde
das matas, assim ressequidas; bem como o mar perca seu verde, seu azul, suas
cores cristalinas;
que o
céu perca o seu sublime azul;
que as
nuvens percam o alvor em seus nimbos; e mesmo aquele leve cinza agradável de
ver;
e mesmo
as ondas percam o branco do mar;
que as
densas camadas de gases venenosos e elementos tóxicos suspensos no ar impeçam
até que os raios solares
alcancem
a flor da Terra;
e que
toda a espécie de vida seja destruída,
pois
vida alguma poderia resistir a tal devastação, mesmo aquelas que busquem
salvação
em
abrigos anti-nucleares,
pele
densidade de veneno letal pairando no ar por muito mais tempo do que o
previsto, fazendo o ar irrespirável por centenas de anos, que nenhuma máscara,
por mais moderna, será capaz de livrar as narinas de alguém;
e a
Terra ficar sem vida então...
Mas do
modo que se imagina
que tudo
isso já tenha acontecido, e que passadas dezenas de eras,
cada era
com milhares de anos, a vida então ressurgiu,
e viemos
nós outra vez,
e vamos
evoluindo até a destruição outra vez, como num ciclo inevitável
da
própria contingência humana, imagina-se também
que
desta vez será diferente, pois seres extra-terrestres,
os quais
são de planetas superiores,
e que
por sua vez já superaram tais problemas, quebrando este ciclo nefasto e
repetitivo,
e
entrando pela linearidade do progresso infindável, nos descobriram enfim,
com seus
discos voadores imperceptíveis, agindo de forma sorrateira
usam de
seus impensáveis artifícios para evitar que nos destruamos.
Mais que
uma remota esperança, seja verdade, que assim livrem a humanidade
do
repetitivo ciclo auto-destrutivo.
Mas de
todo não há certeza sobre tais discos voadores,
que
mesmo que existam por aí, desde há quanto deles se têm notícia,
desde
que se eram os deuses astronautas, guerras muitas eclodiram,
primeira, segunda e outras,
e quem
sabe até estão por trás das guerras, e esses conflitos já vêm de ouros planetas
e persistem aqui, pelos seres de lá germinados aqui na Terra, e que convivem
entre nós, terráqueos, inconscientes até de suas próprias origens, mas sempre
direcionadas para os seus interesses conflitantes,
quais
sejam se afirmarem superiores, destruindo o povo rival;
e quem
sabe os tais discos voadores estejam por trás de grandes gênios,
que
representam uma raça, uma nação? Por trás de Jesus, Buda, Maomé...
De
tantos outros influentes,
ainda
que não fossem sobremaneira conscientes dessa mesma ligação, ou até mesmo
tenham sabido...
Quem
sabe vem os conflitos através de tais seres, que se manifestam em superioridade
demais, arrebatando multidões em crenças e paixões ?
Mas são
crenças e paixões que se conflituam, que não atendem ao interesse o homem
em se
resolver em seu desígnio , de se harmonizar como um todo, para que vivamos em
paz,
levando
a humanidade assim à destruição total, pelas armas ultra-avançadas .
E não
importa se a primeira,
s
segunda, a décima, a enésima vez... para nós valerá o agora.
E com
tudo o que vemos e sabemos não é difícil imaginar
que todo
recomece outra vez, após milênios e milênios,
os gases
venenosos entrando em combustão, pela ação permanente do sol,
inatingível
será sempre o astro-rei,
e sendo
levados pelos resíduos tóxicos para as profundezas da Terra
pelas
águas dos rios e dos mares, a poeira então se assentando, tudo o seu lugar
retomando, tudo então se recompondo
seguindo-se
a tendência natural,
tudo se
tornando numa adequação natural, e, segundo a segundo se seguindo,
com a
passagem de centenas de milênios, tornem- se limpos os rios, os mares, o ar;
torne-se azul o céu outra vez;
com a
lua e as estrelas resplandecendo à noite, e com mais alguns milênios ressurja a
vida
a partir
dos genes dos genes de cada espécie, conservadas na mais infinitésima parte
da
matéria de si,
onde se
preserva o princípio da vida, formando as células a se agruparem
em
organismos que se conduzam naturalmente à sua forma ulterior de ser,
visto
terem sido feitas perfeitas condições, necessárias a seus integrais
desenvolvimentos, e assim vindo os seres microscópicos,
a vida
então recomeçando
e se
movimentando dentro das águas, os procedentes do que serão vegetais, do que
serão animais,
plantas,
mamíferos, aves peixes, répteis, anfíbios, insetos..
e
passados mais alguns milênios, reapareça o homem, reiniciando um mais novo
ciclo de existência, e nesse novo ciclo de existência venha no bojo do seu
âmago toda a mesma contingência
dos seus
defeitos congênitos, que resvalam então de novo
na
maldita e famigerada guerra, a maldição da humanidade.
também
pode vir a ser diferente
o
reaparecimento da vida,
com as
células se agrupando de maneiras diferentes, de formas como nem podemos
imaginar,
e homem nem ressurgir,
ou não
ressurgir assim como somos agora, mas talvez na forma de um quadrúpede, ou
mesmo uma espécie de molusco, inseto , árvore ou ave, e fique impedido de
desenvolver-se assim
Na sua
rota cíclica de destruição de si e de todos...
Mas há
quem diga também
que as
guerras são até necessárias para a evolução espiritual do homem,
e até
para controlar a densidade demográfica... mas claro que soam como idéias
absurdas, como qualquer uma que justifique a guerra, embora necessite mesmo o
homem
de
evoluir espiritualmente...
Mas será
que é por aí? Mas tanto mais dizem:
que há
quem nasça com o dom para a vida militar,
atestando
então ser do natural humano militarismo, armas e guerras.
Será a
natureza imperfeita,
ou a
guerra faz parte da perfeição?
Então
não adianta sonhar com a definitiva paz,
e tudo
será como em certos filmes de ficção, onde o tempo é um futuro longínquo,
a guerra
é a tônica,
e as
armas mais incríveis,
armas
que pareciam impossíveis
o homem
passo a passo conquistou.
Supõe-se
que enquanto houver o homem
com suas
paixões, ideologias, crenças, valores,
haverá
as diferenças, os conflitos, as guerras;
que
guerra é e será uma constante da humanidade, a menos que algo muito
extraordinário ocorra, como por exemplo numa grande convenção
dos
poderosos líderes e chefes de estado se resolvesse que todos os países
destruiriam
suas armas, incondicionalmente, e decidissem resolver suas diferenças
na base
do diálogo e compreensão mútua, e até deliberassem ajudar uns aos outros, e se
apertassem as mãos, se abraçassem, e sorrissem uns aos outros com pureza... Mas
isso talvez seja uma doce utopia...
Mais
fácil é acreditar em discos-voadores que baixem com seus poderios,
de
potentíssimas armas, por nós inimaginadas,
e a
todos submetessem,
e nos
destruíssem as armas,
e resolvessem
os conflitos de todos os povos, pelo mais justo, pelo mais certo,
obrigando-nos
ao respeito mútuo, e acabassem com as dominações,
e
promovessem a justa distribuição da riqueza e do progresso alcançados;
do alimento,
do remédio e do abrigo para todos,
cessando-se assim todos os conflitos,
se
impondo a paz goela abaixo da humanidade beligerante.
Mas é
talvez também outra utopia, doce ilusão...
Seria
mais fácil acontecer que algum país bom e justo
torne-se
bem mais poderoso do que qualquer outro em algum poder tecnológico inigualável,
e
assumisse a responsabilidade pela paz no mundo,
e não
permitisse assim mais nenhum conflito na Terra,
nenhuma
dominação,
atacando
e desarmando o país agressor, como verdadeiros policiais do planeta,
e
patrocinasse então a paz , a harmonia, o bem estar; tudo na base da justiça, da
fraternidade, do respeito, sem interesse de dominação
e
exploração desses países... Quisera não fosse utópica também essa possibilidade
de ocorrência...
Mas
talvez fosse mais fácil imaginar
que no
mapeamento do código genético se descubra onde se encontra no homem essa
tendência de voltar-se à guerra,
e
encontrasse então uma forma eficaz de neutralizar o dom bélico do homem e se
educasse os homens
para a
aceitação de uns pelos outros, e para o não uso da violência
em
qualquer situação da vida.
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