“Meus Memoráveis Tempos do Halley e Outros Versos “ são poemas de longo percurso, e dos quais destaco o texto título, por se referir a um tempo de eventos muito marcantes em mim, e os quais ocorreram quando da passagem do famigerado cometa por estas paragens. Relevo também a história de Zé Firmino no texto “A árvore do destino”, que pode ser definido como um conto em versos. No mais, são textos em que alguns versos consideram sobre a problemática da guerra, “Versos Bélicos” , e outros discorrem sobre umas polêmicas criaturas : os insetos, “Das Controversas Criaturas”. Espero que tenham boa leitura. Um grande abraço!

sábado, 14 de novembro de 2020

A Árvore do Destino

Zé Firmino encontrou a estranha semente. 

Estava bem à mostra na beira do caminho.

 Zé Firmino parou a fitá-la pensativo:

será que valeria à pena levá-la?

 

Qual tipo de vegetação dali se geraria? Qual tipo de vegetação a gerou?

Era grande e pesada a semente. Um inquietante dilema o envolveu: levar ou não levar a semente?

Por que de repente na sua vida já por demais atribulada

 

vinha agora a se mais encucar por causa daquela semente ali? Não poderia passar ao largo dela,

sem por ela tomar-se em mais problema? Mas aí então é que estava o ponto:

por que parara de repente fixado pela semente? Era porque estava ali para que a levasse.

Se não a levasse viria a ser pior a encucação, sempre a pensar no que seria com a semente, e martelariam-lhe pro resto da vida

pensamentos, conjecturas e possíveis arrependimentos.

 

Estaria fugindo a uma trilha do destino recusando-se a carregar tal semente, ou estaria apenas auto-sugestionado, efeito de muito sol na cabeça?

E no complexo dilema já se demorara muito ali, deixando-se aos pensamentos se decidirem...

E os pensamentos tenderam para seus caminhos:

 

se na sua vida então bastante virada

 

viera agora a parar tudo por causa daquela semente a se insinuar ali em seu caminho era porque alguma relação consigo havia.

 

Ademais, havia de dar-lhe um tom variante à vida. Para a semente então convergia o fluxo da sua vida. Seria agora o centro da sua vida vazia,

e quem sabe preencheria a sua vida de benesses? E se lhe viesse a ser trágico?

Pouco se lhe dava:

 

Que diferença faria na sua vida adulterada?

 

Serra porque estava escrito que assim deveria ser. Então levaria consigo a semente.

E assim decidiu-se, e enfim apanhou-a.

 

Resolveu que a semente já era parte da sua vida. Mas... Para onde iria levá-la? Onde plantá-la?

Zé Firmino vivia caminhando pelo mundo sem destino; sem casa, sem terra, sem descanso;

dormindo pelas beiras das estradas,

 

pelas portas das igrejas,

 depois que deixou sua cidade, família, amigos, emprego, após ter sido exposto ao escárnio e à chacota

do povo pela grande humilhação lhe imposta, pois desvirginara a filha do prefeito,

que então através do delegado e seus homens, lhe providenciara uma surra em praça pública, à maneira como se fazia com os escravos;

e usando um poste como pelourinho, o Zé Firmino ainda ficou exposto durante um dia e uma noite,

nuzinho com a bunda exposta ao público, que estava convencido de que o Zé Firmino era quem era o lobisomem da cidade,

e fora flagrado como tal na noite passada. Tudo armação do prefeito e do delegado,

cujo ao filho tinha a filha do prefeito como prometida. E o povo aproveitou-se então para fazer a festa:

 

o grande demônio enfim estava amarrado; o grande vilão sujeitado.

Naquelas horas, por muito o Zé Firmino passou: após a grande surra e as costas a sangrar

ficou exposto e despido ao tempo.

 

E cada qual tirava a sua lasquinha, dando-lhe tapas, soladas, sardinhas; tirando sarros das suas nádegas.

 

Naquela noite enfiaram até coisas no Zé pelo orifício anal: linguiça , vela, cabos de vassoura, etc.

Enquanto a filha do prefeito fora mandada para fora da cidade às escondidas,

para evitar o grande escândalo,

 

e após ter tomado também a sua surra em seu quarto trancada.

 

Fora colega de escola de Zé Firmino no tempo que eram ainda meninos,

e tiveram um namorico de ousadias às econdidas. O pai dela viria a tornar-se prefeito;

o pai de Zé Firmino, que era dono de um bom pedaço de terra

 

de sólida plantação a começar a prosperar àquela época, tornara-se pobre, sem terra, sem nada,

e havia sido morto e enterrado; tudo armação do futuro prefeito,

que não admitia ninguém fazer-lhe frente na política, discordando dos seus projetos ambiciosos, atropelando a tudo e a todos,

com seus desmandos e falcatruas,

 

coisas de que o pai de Zé Firmino protestava, alardeando a quantos pudesse na cidade,

o que irritava o futuro prefeito, prestes a tomar suas providências. E o Zé Firmino teve que se virar como roceiro, e labutava todo dia em roças alheias em troca de comida e abrigo.

 

Mas a filha do prefeito nunca esquecera

 

os olhos negros acinzentados do Zé Firmino. e então os reencontros às escondidas,

e então ela resolveu se entregar.

 

Zé Firmino estava marcado para morrer,

 

depois que fosse tirado do poste onde amarrado, ninguém lhe deveria matar ainda,

pois a grande festa do linchamento estava para já acontecer na outra noite, após a confissão forçada do Zé,

de que era ele mesmo o Lobisomem responsável por tantas desgraceiras e mortes. Mas mesmo essas desgraceiras e mortes eram armações do prefeito e do delegado, que assim dava conta dos seus desafetos, com mortes, destruição de plantações e incêndios, tudo atribuído ao tal lobisomem

que o prefeito inventara com o delegado

 

e alguns comprados pelos quais davam vida ao tal lobisomem em “suas aprontações”. Mas naquela noite uma alma boa, aproveitando o sono embriagado

 

do vigia que houvera o delegado incubido de tomar conta do Zé, livrou- lhe da sua aflição,

e aconselhou-o a buscar justiça...

 

O Zé logo caiu para dentro da escuridão da mata... Nem viu o rosto do seu libertador, ou libertadora, coberto que estava por um manto na alta madrugada, e mal pôde também agradecer...

Mas onde que nada de buscar justiça!... Onde?... Todos naquelas redondezas estavam aliados ao prefeito, que se havia tornado demais poderoso, em troca de fortuna, proteção e tanto mais.

 

Zé Firmino não tinha força para tanto,

 

e resolveu que iria esquecer tudo aquilo... Pelo menos ainda estava vivo...

E o Zé queria mesmo  era viver.

 

Então resolveu sair pelo mundo afora sem parada. Foi como se manifestou sua indignação.

E nunca mais por ali aparecia.

 

Já fazia bem uns cinco anos ou mais que vivia de déo em déo bem distante do povoado onde tudo acontecera.

 

Já acostumado a essa rotina, por centenas de cidades já passara; milhares de quilômetros já andara;

 

uma prosa aqui outra ali com um ou outro curioso, mas nunca a ninguém revelara o porque de se haver tornado andarilho.

 

E já estava acostumada a essa vida assim, sem esperar que coisa alguma diferente viesse a mexer consigo de fato,

depois de haver endurecido,

 

e a tudo ter tornado indiferente como agora acontecia,

por causa daquela semente,

 

que entrara na sua vida e era parte de si. Mas, para onde levá-la? Onde plantá-la? Perguntava- se outra vez.

E a resposta era que deveria buscar um lugar.

 

Pois deveria ter um pedaço de terra para plantar e cuidar da semente.

 

E assim também se plantaria nalgum lugar, e então poria fim enfim às caminhadas.

E esse pensamento lhe passou agradável como uma fresca brisa num abafamento. Seria o fim das andanças ao acaso.

A semente poria fim à sua rebeldia fundamentada, a qual se desvelou em andar

por caminhos nunca antes por ele andado, fugindo do passado, de tudo e de todos.

E a semente era enorme e pesada. tinha que carregá-la com as duas mãos.

Mas como já era parte de si não podia deixá-la, e pensava agora num lugar onde plantá-la.

E cansava os braços e então descansava, e ia levando a estranha e pesada semente.

 

 

E carregando a semente entrou num povoado. E teve que encarar muitas reações adversas;

 

e ouviu muitas histórias sobre a semente.

 

Pessoas davam-lhe as costas

 

quando o viam e mais aquela semente;

 

outras se persignavam mais de uma vez e se afastavam; alguns o encaravam com olhar de espanto e medo; outros o fitavam com um ódio muito feroz.

E por onde passava com a semente

 

era apontado e olhado com curiosidade e distância;

 

e pessoas cochichavam e comentavam umas com as outras.

 

E logo o homem da semente ficou conhecido no povoado.

E sobre a semente diziam muitas coisas: que trazia azar e muitas coisas ruins; que muitos dramas a muitos já causara;

que ela causara também muitas tragédias;

 

que já destruiu muitos lares, famílias , fortunas; que por conta dela Fulano virara lobisomem; Sicrano se tornara morcego;

 

Beltrano virara mula sem cabeça;

 

Não sei quem houvera se tornado cachorro louco; que Um tal passara a ser macaco;

outro virou urubu; e até viraram cobra;

houve quem se tornasse urubu; quem se tornasse porco;

quem se tornasse jegue;

 

quem se tornasse até o próprio diabo;

 

que a semente houvera já desencaminhado a vida de muita gente;

que um tornou-se alcoólatra; que outro tornou-se drogado; outro ficara miserável;

que tinha quem tivesse ficado cego; quem tivesse enlouquecido;

quem virasse assassino; quem virasse ladrão;

 

e um virou psicopata; e outro virou suicida;

que um tal matara o pai; que um outro matara a mãe;

já outro matara a família inteira.

 

E assim contavam as mais terríveis histórias, e era tudo por causa da semente.

Porém havia algo de controverso.

 

Pois diziam outros que a semente não era má; e que até trazia sorte para muitos;

que havia casos de sabedoria e fortuna também atribuídos à semente; tesouros, castelos, reinados, impérios... Tudo conquistado através da semente.

Havia quem cresse também

 

que a semente nada representava,

 

e que a imaginação do povo era muito fértil e lhe atribuía coisas infundadas,

 

pois o que tem de ser

 

está no destino de cada um, independentemente da semente.

Mas a grande maioria via a semente como coisa ruim.

 

 

 

E o Zé Firmino continuava a carregar sua semente, indiferente a tudo e a todos;

e pesava todas aquelas histórias;

 

ora se a semente faz revelar a sorte ou o azar, que lhe viesse a revelar o seu também ...

que diferença iria fazer na sua vida de nada; sua vida de menos de que nada?

E já estava no povoado há mais de uma semana, carregando a semente pra lá e pra cá.

Nunca houvera parado num povoado tanto tempo desde que o destino o empurrou

para as estradas a caminhar;

 

e buscava um lugar por ali pra ficar;

 

tinha que arrumar um lugar para a semente. Primeiro arrumaria um trabalho;

com o dinheiro do trabalho compraria terra para então poder plantar a semente.

Mas estava difícil de arrumar trabalho; e muito mais por causa da semente

que levava consigo onde quer que fosse.

 

E muitas portas batiam-se-lhe ante o nariz. Mas não perdia a esperança.

E a semente dava-lhe uma renovada vontade, muito embora.

A semente já fazia parte de si, como um amuleto, um carma... Fosse para vencer ou perder, ficaria até o fim com a semente.

E era assim desprezado no povoado. Ninguém com Zé Firmino conversava; nem muito menos o ajudava;

 

nem seu nome perguntavam.

 

E mesmo aqueles que não temiam a semente ousavam com o Zé Firmino conversar,

para que não ficassem assim mal-vistos, e caíssem também no desprezo do povo,

pois o povo acreditava que a maldição afetava também aqueles que se envolvessem

com alguém ligado a tal semente; por isso preferiam ficar afastados.

E assim ia o Zé Firmino vivendo tais dias; e dormia na porta da igreja.

E mesmo o padre esquivava-se de lhe falar...

 

O Zé percebeu certa vez

 

quando lhe ia perguntar sobre a semente. Apenas respondeu-lhe muito apressadamente,

sem nem olhar no Zé e sem parar de andar apressadamente, que o Zé deveria abandonar a semente e esquecer;

que aquilo lhe estava causando um feitiço obsessivo ,

 

o que poderia em muito lhe fazer mal... E continuando a andar com pressa, qual fugindo das inquirições do Zé,

não lhe deu mais ouvidos, deixando o Zé a falar sozinho.

O Zé então decidiu deixar quieto...

 

Porém tomava diariamente a sopa

 

que a igreja servia aos indigentes da cidade. E numa madrugada, já indo para se turvar,

Zé Firmino despertou com uma estrela riscando o céu; e a estrela viera a cair adiante ali na sua frente,

lá por um arredor do povoado;

 

então levantou-se e se foi em direção ao local onde vira a estrela cair;

e quando chegou lá já era dia completo.

 

E o local era bem a uns três quilômetros do povoado;

 

e carregando a pesada, estranha e controversa semente... Mas não encontrou a estrela que vira ali cair;

 

porém estava certo de que a estrela caíra bem ali;

 

e então aquele pedaço de terra lhe ganhara um brilho especial; e como era terra-de-ninguém resolveu que ali se iria fincar; então a primeira coisa que fez foi enterrar ali a semente;

e após fincou uma comprida vareta para marcar; adentrou a mata para pegar madeira;

e de madeira fez um cercado para aquele chão; e diariamente molhava a semente;

e continuava adentrando a mata para pegar madeira; e de madeira construiu também uma casa;

e continuava diariamente a tomar a sopa da igreja;

 

e o povo estranhava que já não carregasse a semente, mas ainda assim desconfiado temia dele se aproximar. Mas um dia alguém, vencido pelo desejo da curiosidade, perguntou-lhe o que se fora feito da semente;

e então o Zé Firmino respondeu o que se sucedera; e logo o povo ficou sabendo do fim da semente;

e as opiniões eram as mais variadas:

 

uns contra, outros a favor, uns indiferentes... E até cogitaram de expulsarem-no da cidade;

pois a semente poderia atrair muitos males para o povoado.

 

Mas o delegado afirmava que nada poderia fazer para expulsar dali o homem da semente,

pois ele não houvera cometido crime algum; o padre nos sermões da missa apregoava

que não se deve intrometer-se nos desígnios de Deus, que tal crença numa semente era prova de falta de fé, e que caberia a cada um orar e voltar-se a Deus,

e não esperar nenhum mal, nem da semente nem de nada: “...Orai e nada haverá que possais temer...”;

o prefeito dizia que o homem da semente era um cidadão, e como tal não poderia ser molestado,

e todo mundo tem direito de viver em paz, independentemente de credo , raça ou ideologia,

e que o homem da semente vivia em terra de ninguém. Então resolveram deixar quieto o homem da semente;

 

e o homem da semente ficou famoso no povoado; e regava a semente diariamente;

e a água buscar num riacho que passava adiante, a bem uns dois quilômetros dali;

e carregava diariamente latas d’água na cabeça. Resolveu começar a cavar um buraco;

e este buraco tornou-se uma benéfica fonte, de água fresca, boa e abundante;

e não mais precisava caminhar tanto com a lata d’água na cabeça.

Também arou sua terra e plantou muito aipim; na sua cozinha fez um eficiente fogão de lenha; e de madeira construiu mesa, cadeira e cama; e fez colchão e travesseiro de palha seca.

 

 

A semente demorou a brotar mas brotou; e nasceu uma tenra plantinha;

a plantinha enfrentou muitas intempéries:

 

seca, tempestades, formigueiro, mas vingou; já era uma plantinha de bem uns dois metros; Seu destino era tornar-se numa grande árvore.

 

 

Zé Firmino já vendia aipim e coisas outras que plantara: tomate, quiabo,pimentão e hortaliças;

e como trabalhara bem seu roçado,

 

o que era motivo de admiração da gente dali, era chamado volta e meia para serviços de roça: roçava, limpava, arava, plantava e dava dicas;

muita gente já havia esquecido do caso da semente,

 

mas havia ainda quem acompanhasse a vida de Zé Firmino, de longe,com expectativa do que lhe iria acontecer;

mas, a despeito de todo o mal presságio sobre a semente, a vida de Zé Firmino parecia progredir:

até cavalo e roça Zé Firmino já possuía.

 

Isso levava o povo a refletir

 

que nem sempre se é como a maioria acredita.

 

Mas havia ainda quem acreditasse que a semente era maléfica,

e algo de muito ruim ainda aconteceria na vida de Zé Firmino.

 

 

Um dia apareceu no povoado uma mulher, com um filho já andando e um outro no colo;

e pedia esmola, comida, trabalho, abrigo, ajuda; e contava que abandonara a sua casa;

que seu marido tornara-se alcoólatra e violento; e batia nela e nas crianças, e passavam fome; então tomou a decisão de se ir embora...

E no povoado alguém falou-lhe do Zé Firmino;

 

e a mulher e as crianças foram bater-lhe à porta; para oferecer-lhe seus préstimos;

e Zé Firmino deu-lhe abrigo e comida; e ela era boa com o Zé Firmino;

e lavava a roupa de Zé Firmino;

 

e fazia boa comida para Zé Firmino; e limpava a casa de Zé Firmino;

e ajudava Zé Firmino em tudo;

 

e era boa em tudo para Zé Firmino;

 

e os filhos dela eram bons com Zé Firmino;

 

e o Zé Firmino por fim a tomou como companheira, a dormir consigo em sua cama;

e assim Zé Firmino já tinha até família.

 

Passaram-se anos sem nada de relevante acontecer... Aliás Zé Firmino prosperava mais e mais;

aumentou em muito o tamanho da Terra-de-ninguém; e era agora quase como uma fazenda;

nela Zé Firmino plantava de um tudo; e já possuía muitos animais também;

e de um tudo que o Zé Firmino plantava

 

sempre tinha algo no ponto para colheita e venda; e Zé Firmino distribuía para vários mercados, inclusive para mercados de povoados vizinhos;

 

vinham comprar nas mãos de Zé Firmino;

 

e Zé Firmino já tinha também seu próprio armazém; e Zé Firmino ficava mais e mais rico;

Zé Firmino construiu casa moderna na Terra-de-ninguém, nome que acabou sendo o daquela propriedade, daquelas de dois pavimentos e varandões

em todos os lados da casa;

 

portas e janelas amplas, paredes brancas; e tudo era um luxo na casa do Zé:

televisores modernos, DVDs, home theater, sons, computadores ligados à internet,

telefones celulares, energia solar, antena parabólica e tudo o mais

das maravilhas da tecnologia de ponta; os filhos da esposa de Zé Firmino estudavam na melhor escola do povoado;

e quase ninguém lembrava mais da semente; e daqueles que lembravam

 

as opiniões eram ainda controversas;

 

havia quem acreditasse que algo ainda haveria de acontecer; e havia quem acreditasse que não se deve confiar

nas crenças populares, que são fantasiações,

 

visto que a história do Zé Firmino desmentia muita coisa do que se falava sobre a semente,

afinal tamanho progresso jamais se houvera visto, naquele pobre povoado,

E olha que ali o Zé chegara apenas com a tal da semente. Mas quase ninguém comentava mais.

O que ficava em resumo da história do Zé por ali É a de um homem que chegou como indigente

E que com muito trabalho se tornara rico.

 

E da semente quase ninguém mais ousava falar...

 

Da forma como se concebia não estava acontecendo. E a árvore? Bem, a árvore já ia a uns seis metros; grande, de copa larga, frondosa, diferente;

já era notada a boa distância;

 

e pessoas que passavam em frente à propriedade do Zé Firmino paravam e ficavam admirando a árvore;

e muitos não resistiam à curiosidade de perguntar; mas o Zé não sabia informar;

dizia apenas que era uma árvore rara; mas que não sabia qual era o seu nome; gente inclusive fotografava a árvore;

e outros pediam para serem junto a ela fotografados. E assim se passavam meses e anos...

Os passarinhos eram muitos atraídos pela árvore; e cedo na manhã era uma cantoria diversificada dos vários passarinhos ali naquela árvore.

E quantos passarinhos já nasciam na árvore do Zé !? Quantos passarinhos não escolheram a árvore do Zé para fazer seus ninhos e procriarem?!

 

 

Os filhos da esposa do Zé já grandinhos

 

fizeram gangorra e brincavam horas e horas e horas na gangorra

 

juntos com colegas da escola que lhes iam visitar pela árvore.

 

Assim também eram os filhos de conhecidos comerciantes

 

de quem se tornaram amigos e que também eram atraídos pela árvore.

 

Zé Firmino também recebia muitos amigos, principalmente em fins de semana e feriados;

e ficavam sob a sombra da árvore a se divertirem; e eram mesas e cadeiras;  churrascos e bebidas;

e muitas prosas; e muitas histórias; e muitas risadas. E no dia- a-dia da sua vida,

apesar de se ter ficado muito rico,

 

ainda pegava por gosto e prazer na pá e na enxada; e arava aqui, e limpava ali, e trabalhava;

e quando cansava ia descansar na sombra da árvore; e deitava de papo pro ar sob sua copa;

e ficava dali apreciando as folhas balançarem-se ao vento; coisa de que já gostava;

chegava a cochilar ali e a sonhar;

 

parecia estar no céu, e seus pensamentos se elevavam; desta forma também via os passarinhos pousarem; via os passarinhos partirem;

via os passarinhos saltitarem de galho em galho na árvore; via os passarinhos a cantar;

via o céu entrecortado pela folhagem balouçante.

 

E quase sempre após o almoço

 

ia o Zé fazer a cesta sob a árvore.

 

E então ficava a balançar-se na rede

 

que pusera sob a copa da misteriosa árvore. E assim se iam passando meses e anos;

e a árvore ia crescendo mais e mais.

 

 

 

Um dia o Zé estava assistindo ao programa “Mistérios do mundo”, que mostrava coisas incríveis, e que respondia a perguntas também;

 

e então o Zé Firmino resolveu saber sobre a árvore;

 

e mandou para o programa uma fotografia da árvore;

 

e com ela perguntas sobre a árvore:

 

seu nome científico, tempo de vida ,etc.; tudo o que se pudesse saber sobre a árvore.

O apresentador ficou deveras espantado com aquilo, pois os cientistas consultados acreditavam

que não existiam mais daquela árvore; ou mesmo que nunca houvesse existido;

pois no Livros da Antiguidade registrava-se que quando se começaram as civilizações contava-se a história de uma certa árvore

que trazia todo o tipo de desgraça a quem próxima a ela vivesse; e o nome da árvore era Árvore do Destino;

e por isso em todo o lugar derrubaram as tais árvores, pois ninguém queria atrair desgraça para si;

e assim a árvore teria sido erradicada.

 

A história nunca foi comprovada cientificamente; parecia uma das muitas lendas humanas;

mas, agora era de fato de espantar,

 

pois a forma da árvore na fotografia

 

condizia perfeitamente com uma ilustração da árvore, que havia no livro das antiguidades.

Então tal árvore existira? Quer dizer, existe mesmo? Isto é realmente incrível! Anunciava pasmo.

E então o apresentador aprofundou-se ainda mais,

 

com as informações contidas no tal Livro da Antiguidade, sobre a tal Árvore do Destino.

Dizia que ela trazia as maiores desgraças a para quem a possuísse;

 

para quem a plantasse; para quem a cultivasse; ou mesmo para quem vivesse próximo a ela;

dizia ainda que a tal árvore dá apenas um único fruto durante toda a sua longa existência;

e que tal fruto é enorme, como é também a semente; e que seu fruto é tão delicioso

que quem come uma vez

 

deseja comê-lo sempre mais e mais;

 

e que a isso se atribui um poder enfeitiçador; pois a pessoa poderá ficar louca

se não comer mais e mais do seu fruto;

 

diz ainda que é justamente quando a árvore dá seu fruto que começam a acontecer as desgraças

na vida do dono da árvore,

 

e na vida das pessoas próximas, ou com a árvore envolvidas; e então alertava o Zé para que ficasse de olho.

Dizia ainda que acreditavam que a semente era parte do mal; e que poderia ter vindo de outro mundo; ou de outro planeta; mas havia também uma alusão a que

a árvore apenas cobrava os pecados das pessoas; das pessoas com ela envolvidas;

pois nada passava despercebido pela árvore;

 

e que nesse sentido ela seria uma purificadora das almas; pois seriam as tais desgraças a forma de pagar os pecados, purificando-se desta maneira.

E prosseguia dizendo que  porém nunca se soube

 

da existência real desta tal árvore;

 

e que antigos interpretadores haviam atribuído a tudo isso fantasiações;

e que esta árvore seria alguma planta venenosa da flora, ou ervas de poder alucinógeno.

Porém estavam todos estupefatos com aquela fotografia, e concluía dizendo que cientistas e pesquisadores

já se organizavam em caravanas

 

para verem a tal árvore de perto e estudarem-na.

 

 

 

Zé Firmino ficou muito impressionado com tudo aquilo; mas não tanto que o tirasse do normal,

e o fizesse mudar a sua rotina de vida;

 

para ele tudo continuava envolvido no mesmo mistério; e decididamente iria conservar a árvore;

a qual lhe dera todo um sentido à sua vida; ademais, tudo eram apenas especulações;

e que desgraça pior poderia mais lhe acontecer?

 

Mas quem ficou com a pulga atrás da orelha foi a mulher do Zé Firmino, abalada em susto;

e passou então a pensar sobre o que decidir fazer.

 

 

 

O fato de a árvore ter sido tema daquele famoso programa fez com que muita gente se sentisse atraída a vê-la;

e o povoado passou a receber muitas visitas;

 

e muitas vinham em caravanas para ver a árvore e fotografá-las;

 

e vinham, biólogos, botânicos, especialistas, estudantes, estudiosos;

 

e todo o tipo de curiosos que chegava diariamente; e gente até bastante mudou-se para o povoado; para acompanhar a história do Zé Firmino de perto. E a cidade construiu hotéis; e se vendia muitos cartões postais da árvore; e veio

gente até do estrangeiro;

e a cidade cresceu muito, e muito progrediu; e o Zé ganhou título de cidadão do povoado;

 

e todos - políticos, comerciantes,etc. - estavam orgulhosos dele; o Zé colocara o povoado no mapa do mundo;

e o Zé ampliou em muito os seus negócios; e ia ficando ainda mais e mais rico;

até folhas caídas da árvore vendia. E a árvore estava enorme, gigante;

bem de longe já era vista, destacando-se na paisagem; e bem de longe se falava apontando:

“aquela é a Árvore do Destino de Zé Firmino...”

 

E assim foi que Zé Firmino ficou famoso em todo o mundo, e sua propriedade recebia visitantes ininterruptamente.

E assim foi que o ex-prefeito da sua cidade descobriu onde estava o Zé, enfim;

pois jurara que se oportunidade houvesse o mataria; pois no que mexera com sua filha, a fizera engravidar; e para evitar escândalo maior,

induzira sua filha a um aborto,

 

mesmo contra a vontade da sua progenitora;

 

e no que abortara sua filha morrera;

 

e teria o Zé Firmino que “ pagar o mesmo preço”, jurara o ex-prefeito da sua cidade.

E resolveu o ex-prefeito ir morar uns tempos no povoado onde o Zé Firmino fincara pé, à espera da boa oportunidade de vingança.

 

Desde o tempo em que o Zé Firmino viera para o povoado até então

O Zé havia enterrado muita gente,

 

e muita gente havia visto nascer também uma delas foi o filho do Sr. Libório, riquíssimo e poderoso comerciante da região, além de fazendeiro de vastas terras;

e o filho do Zé Libório nascera com um sinal, que era como uma estrela de cinco pontas;

e tinha uma pele de um branco muito diferente; quase que branco como papel;

e tinha o cabelo de um amarelo muito diferente;

 

um amarelo parecendo o mais puro ouro encarnado;

 

e tinha os olhos de um azul muito diferente; azul que variava entre o claro, o escuro,

o celeste, o marinho, o acrílico;

 

e era motivo de muito comentário na cidade; acreditavam que era um menino sagrado; enviado; prodígio; até mesmo um messias;

e que deveria trazer alguma revelação; alguma boa nova; e então o Sr. Libório decidiu que seu filho

iria ser criado livre e à vontade, como qualquer menino do povo, para viver como o povo,

até que se lhe aflorassem as suas reais aptidões; até se fazer conhecida a sua sagrada missão.

E assim estava sendo.

 

 

 

O menino sagrado tinha o nome de Clarinaldo, e brincava também com os filhos do Zé Firmino; e as brincadeiras eram subir e descer na árvore,

 

Gangorra, rede , jogos na mesa à sua sombra, entre outras. Um dia Clarinaldo resolveu subir à árvore com um facão para tirar uma forquilha para matar passarinhos;

mas, lamentavelmente se desequilibrou; e despencou da árvore, de muito alto,

onde buscava uma forquilha perfeita para o badogue; e caiu de um jeito tal sobre o facão

que este transpassou-lhe o abdômen. Foi uma comoção total;

todos gostavam do menino e até esperavam nele; acompanhavam a sua vida com expectativa; principalmente o pai, todo orgulho.

O Sr. Libório não se conformava; não aceitava;

 

como podia seu filho sagrado morrer de forma tão estúpida? E não aceitou os pêsames de Zé Firmino;

e nem permitiu que ele e a família fossem ao enterro; estava de fato com muito ódio do Zé;

e o responsabilizava pela morte do Clarinaldo;

 

e a partir de então cortava as relações com o Zé; e assim , todos os bons negócios também.

A essa altura já havia muita gente relacionando

 

a desgraça do filho do seu Libório à maldição da árvore. “Mas... e se o fruto ainda não estava sendo dado...?” ; “... mas será que não

?” ;

“... podia estar em algum lugar escondido...!”

 

 

 

Grupos de estudiosos que o Zé permitiu que acampassem em sua propriedade para melhor estudar a famosa árvore convenceram-no a construir uma escada ao longo do tronco da árvore

para melhor então poder estudá-la; e assim foi feito;  o Zé permitiu;

e após a tragédia do filho do Sr. Libório resolveram procurar o fruto;

e subiram a escada para procurá-lo;

 

e de tanto procurar acharam-no. acabaram encontrando-o ainda miúdo; mas decidiram não divulgar a notícia; e diziam não haver fruto algum;

na verdade queriam comprovar a veracidade da lenda;

pois se divulgassem sobre o achado do fruto, bem que o Zé poderia querer arrancá-lo, para evitar as desgraças anunciadas;

então resolveram ficar calados, acompanhando.

 

 

 

O ex-prefeito, que já estava no povoado, estudava um jeito de pegar o Zé Firmino;

mas o Zé estava sempre acompanhado de gente. Mas não desistia de agarrar a melhor oportunidade de consumar suas intenções vingativas,

e um dia, disfarçado de mais um curioso atraído pela fama da árvore,

 

adentrou a propriedade do Zé Firmino. Ficou também impressionado com a árvore;

aquela folhagem parecida com milhões de mãos caídas... Mas não estava ali para admirar árvore alguma;

seu coração pedia vingança;

 

e estudava ali um jeito de praticar a sua ação fatal; mas enquanto não lhe vinha uma boa oportunidade, resolveu pregar-lhe então uma grande peça;

e retornou à propriedade do Zé Firmino

 

com uma boa quantidade de esgoto do hospital;

 

o qual vira estourado por detrás da rua erma do hospital; ao ver aquilo passou-lhe a sórdida ideia na cabeça,

coisa do seu ódio vingativo;

 

e na mesma madrugada em que coletou aquela fedentina encontrou um jeito de jogar aquela imundice

dentro da cisterna do Zé Firmino,

 

após cortar arames farpados da cerca do Zé, pelos fundos da grande propriedade do Zé.

 

da cisterna ia água para todas as casas das pessoas que moravam e trabalhavam na propriedade do Zé Firmino,

inclusive para a casa do próprio Zé. E logo logo teve efeito o miserê;

os trabalhadores, mulheres e filhos pegaram as mais diferentes doenças;

 

e muita gente da cidade, que bebeu daquela água, de quando em visita à Terra de Ninguém;

e até os estudiosos acampados ali adoeceram; e tantos daqueles morreram;

e o Zé, preocupado, mandou chamar todos os médicos; e custeou consultas exames e remédios;

e, descoberta a contaminação da água, custeou também a sua purificação.

E ficou a imaginar quem teria patrocinado tal esculhambação; e não lhe saía da cabeça que bem poderia

ter sido da parte do Seu Libório.

 

Pior que várias pessoas contaminadas morreram; e a contaminação passou para outros mais;

pelo ar, pelo toque, e de outras formas mais; a cidade quase inteira adoeceu;

e muitos de lá se foram amedrontados; e muitos na cidade morreram;

e o Zé teve que custear enterros;

 

e pior ainda: parentes das vítimas mortas e mesmo as vítimas daquele ato macabro foram orientadas a entrar na justiça,

a pedirem indenização por perdas e danos... E o Zé tornou-se às voltas com advogados enquanto corria as tantas demandas;

e tudo isso já dava um belo baque nas contas do Zé Firmino.

Mas dinheiro muito ainda restava

 

apesar de menos, por causa do Seu Libório, que cortara negócios com Zé Firmino,

 

e que houvera convencido a muitos não fazer mais negócios com o Zé.

Em solidariedade à dor do Seu Libório que era muito poderoso e influente todos romperam negócios com o Zé.

 

E ficou muita produção encalhada; muitas já apodrecendo;

e muitas foram ao povo doadas.

 

O Zé teria que buscar novas parcerias comerciais. Pior que muitos dos que ficaram bons resolveram cair fora da fazenda;

o coelho é quem mais ficaria mais ali; bem juntinho à árvore da maldição; já haviam visto demais;

e pediram indenização, alegando não ser justa causa, mas causa de doença e ameaça de morte;

e lá se ia  dinheiro mais e mais do Zé;

 

e as plantações, abandonadas, começaram a definhar; e mesmo com os anúncios que colocara nos jornais,

 

ofertas de emprego, moradia e alimentação...

 

A fama da maldição da árvore impedia qualquer um; ninguém se apresentou para a tarefa;

não tinha mais como tocar a plantação...

 

E quando pensava na situação

 

pensava que já não tinha antes nada mesmo; e que se já fora andarilho,

poderia continuar a ser; o que lhe poderia afetar?

Que se acabasse a plantação!’ Que se acabasse tudo até!

Porém as folhas continuavam caindo... Como mãos desprendidas dos braços...

 

 

Agora me pergunte porque

 

o Zé Firmino não adoeceu, não morreu!

 

Ora, dentre as maravilhas tecnológicas de ponta, As quais o Zé fazia muito gosto em adquirir,

 

tinha o Zé um moderníssimo purificador de água, o que salvou o Zé e a sua família,

que só dali bebiam água, viciadas no gosto incrível em que o purificador fazia que a água se tornasse; Zé Firmino resolveu puxar água  do encanamento,

que há algum tempo já havia chegado no povoado, pois assim não correria mais o risco de outra vez tal desgraceira acontecer.

 

A mulher do Zé Firmino levou uma topada, e a tomou como coisa muito estranha,

o que lhe deixou muito impressionada; acostumada a andar pela ampla residência, jamais lhe houvera tal acontecido;

e tomou aquilo como um aviso;

 

e se já andava com a pulga atrás da orelha em função dos últimos acontecimentos.

Mas o estopim lhe levou à sua radical decisão foi quando viu  uma serpente

subindo pelo tronco da Árvore do Destino,

 

E resolveu envenenar Firmino.

 

Iriam pensar que foi ainda da intoxicação, e então quando o Zé batesse a caçoleta iria vender a propriedade a sua herdeira;

 

e seriam as desgraças anunciadas que se faziam; e quando tudo estivesse consumado

iria viver bem; e bem longe dali.

 

E bem que tentara convencer o Zé Firmino a vender tudo e se mandar;

mas Zé Firmino, obcecado, dissera-lhe que iria até o fim da história;

garantindo não acreditar nas tais crendices: ignorancices do povo; que Deus é mais.

E o Zé Firmino bebeu suco de mangaba com veneno; e baixou no hospital;

e lá ficou internado;

 

e todos acreditavam que era ainda da intoxicação, inclusive o ex- prefeito, acreditando no sucesso do seu ato; e ficaram a sua esposa, o ex-prefeito e o Sr. Libório

 

torcendo pela morte do Zé Firmino, e esperando. Mas Zé Firmino não morria;

e já estava internado há bem um mês.

 

O diretor do hospital fez questão de segredar-lhe que na verdade ele houvera sido envenenado;

e juntando isso ao fato de sua companheira ter se ido embora, coisa que logo viera a saber,

e não ter nunca querido lhe visitar no hospital,

 

não podia deixar de concluir quem o houvera envenenado. E o Zé Firmino por fim ficou bom;

mas  comprou o dono do hospital

 

- ainda tinha muito dinheiro na poupança - para fazer-lhe de doente ainda;

para continuar ali no hospital;

 

enquanto ali mesmo decidiria o que fazer.

 

Soube que não tinha mais quase ninguém na fazenda, a não ser uns estudiosos e alguns místicos;

e atribuiu a fuga da mulher ao medo;

 

e dava-lhe razão então, “ coitada”.

 

E o Zé então, lendo o jornal da cidade,

 

soubera que o fruto já vinha crescendo há uns três meses; época mais ou menos do início dos funestos acontecimentos; os místicos haviam resolvido vender tal notícia para os jornais, mesmo contra a vontade dos pesquisadores;

haviam subido a escada e então visto o tal fruto; e haviam ficado também em silêncio

para constatar a veracidade da lenda;

 

mas tementes de mais desgraças resolveram assim fazer. Os estudiosos resolveram ir embora também;

ao tempo em que Zé Firmino resolveu, com a cobertura do diretor do hospital, espalhar a notícia da sua própria morte; e logo providenciaram o falso enterro; muito dinheiro o Zé gastou para isso;

mas antes providenciara a venda da propriedade,

 

a qual a própria prefeitura comprou a título de tombamento;

 

e o Zé pôs tudo no banco;

 

e providenciara o adiantamento dos processos jurídicos, sem as lenga-lengas demoradas costumeiras,

e consequentemente a sua inocentação por total e absoluta falta de provas;

para isso molhou as mãos de juízes e advogados;

 

não que o Zé fosse realmente culpado da fatal desgraceira, mas para apressar definitivamente o desfecho da pendenga, principalmente que partes contrárias;

dificilmente iriam ceder, interessadas que estavam nas gordas indenizações  que o Zé iria desembolsar;

E, claro, sobreviventes, familiares e advogados

 

não iriam ceder facilmente sem recorrimentos intermináveis. Tiveram de conformar-se com a decisão irrevogável do juiz; principalmente que o Zé “morria” logo em seguida.

E o caixão cheio de pedras foi enterrado. E ninguém vira o corpo do Zé ?

“Não !” ;  “Era perigoso!” ; “Poderia pegar coisa ruim!”;

 

asseveravam os doutores do  hospital.

 

E o Zé , antes de se mandar, resolveu que iria na madrugada, sem ser visto; mas antes de ir passou na sua propriedade;

 

foi ao seu cofre buscar dinheiro e joias ali guardados; mas claro que não encontrou;

aquela serpente venenosa lhe houvera roubado a pequena fortuna;

 

só a ela houvera confiado o segredo daquele cofre... Maldita seja!

E subiu à árvore e comeu o seu fruto;

 

e experimentou o seu deliciosíssimo sabor; e o fruto era enorme;

e o Zé ainda comeria dele vários dias;

 

e já ia longe com uma nova semente do fruto; o Zé em seu carro ia dirigindo pela estrada;

pelo rádio ouviu a notícia de que haviam derrubado a árvore; o que foi considerado crime pela prefeitura;

pois que tinha destruído um rico patrimônio da cidade; e sem o fluxo de turistas a cidade voltaria a ser pobre.

 

Mandaram averiguar para descobrir o vândalo; mas nunca conseguiram descobrir

que foi coisa do Sr. Libório,

 

que não se conformava de ter perdido para a árvore o seu menino sagrado.

O ex-prefeito voltou para a sua cidade, sentindo-se plenamente vingado.

 

 

E o Zé Firmino foi para o centro da cidade de uma grande metrópole, morando discretamente num quarto e sala;

 

mas muito bem aparelhado com toda a tecnologia de ponta; e acompanhava as notícias pela TV;

que transmitia tudo quanto era canal;

 

o que lhe permitia ouvir notícias da sua região e adjacências; e com o passar dos anos que vivera ali

ouviu notícia da morte do ex-prefeito;

 

e assim pode saber também de notícia a mais incrível: a filha do ex-prefeito, com a morte do pai,

 

pôde finalmente reaparecer e declarar-se viva; pois é, sua morte fora uma armação de sua mãe; com ajuda de parentes e amigos,

para protegê-la e a seu filho da fúria do então prefeito, que jamais aceitaria tal situação.

O coração do Zé palpitou de indescritível emoção ao saber da existência do seu filho; filho do seu amor e de Ana Carina;

 

também assim toda a cidade ficou a saber das armações do então prefeito

 

juntamente com o delegado e seus comandantes, e que o Zé sofrera tudo aquilo injustamente, que não havia lobisomem nenhum.

 

O Zé logo providenciou que Ana Carina e seu filho

 

viesse com ele morar, numa casa grande e bonita que comprou; e também se casaram;

o Zé enfim vivia a verdadeira felicidade; uma eterna lua de mel de amor;

e o filho do Zé, Romeu, logo se afeiçoou pelo pai; e Ana Carina era a pura felicidade.

 

E assim vivia uma família feliz.

 

Tempos depois soube da morte do Sr. Libório; uma poderosa depressão o pegara de jeito.

Mais adiante soube que viera a morrer aquela que havia sido sua companheira; o Zé soube assim que ela estiva na cidade

a tentar receber como herança a propriedade; o Zé sorria de ironia por dentro;

Ah,  safada! Morrera arrastada pelo rio da cidade,

 

numa grande enchente que arrastara uma ponte por onde passava... Seus filhos foram entregues ao pai alcoólatra.

E o Zé resolveu escrever toda aquela história que vivera;

 

e tinha guardada consigo a semente; que lhe dava incentivo; e o Zé escreveu a história em parábolas e símbolos;

e fez muito sucesso; e vendeu muitos livros; e seu novo nome era João Mário Estrela;

festejado escritor; contador de histórias incríveis;

 

entrou para a academia; ganhou vários prêmios; e teve livros que viraram filmes;

e filmes que ganharam Oscar;

 

ganhou também o prêmio Nobel de Literatura. Porém escrevia um livro que seria o seu póstumo; aquele que contava a sua história verdadeira e crua;

assim como as suas impressões sobre tudo o que vivera; distribuídas entre as centenas de personagens;

inspiradas nas pessoas que conhecera na sua admirável vida. O Zé, já velho, adoecera irreverssivelmente;

e após a sua morte todos ficaram sabendo

 

que o João Mário Estrela era na verdade o Zé Firmino; aquele da tal árvore misteriosa;

e que ganhara fama no mundo;

 

e que estava morto e enterrado na sua cidade natal; Cumprindo sua vontade;

de ser enterrado na cidade onde nascera;

 

Onde tudo se começou a suceder na sua aventurosa vida.

 

E houver pediu também que fosse enterrado com a semente. E então assim foi feito.

E tempos após brotou a árvore do destino No meio do cemitério da sua cidade

E ficou enorme e frondosa.

 

E já não temiam a árvore misteriosa Porque apesar de tudo o que dela se falava

O Zé Firmino havia mostrado que tudo era muito relativo Pois tivera uma vida muito proveitosa

E tudo por causa da semente que dera a árvore. E muita gente acorria à cidade do finado Zé para ver aquela tão famosa árvore;

e a cidade do Zé ficou rica e famosa;

 

e o seu filho foi morar também na cidade; a cidade onde também nascera.

E era também um homem bondoso

 

E político dos bons; de grandes benfeitorias na cidade. Ana Carina, a viúva, cuidava da Casa Do Zé Firmino;

 

onde estavam pertences do Zé: livros, fotos, roupas;

 

o computador em que o Zé escrevera seus livros famosos; e tantas curiosidades mais;

e a Casa do Zé Firmino era muito visitada pelos turistas. E sobre aquela árvore, fincada no cemitério da cidade, e vista por toda a cidade e arredores, diziam

que ali era o próprio  Zé Firmino

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