“Meus Memoráveis Tempos do Halley e Outros Versos “ são poemas de longo percurso, e dos quais destaco o texto título, por se referir a um tempo de eventos muito marcantes em mim, e os quais ocorreram quando da passagem do famigerado cometa por estas paragens. Relevo também a história de Zé Firmino no texto “A árvore do destino”, que pode ser definido como um conto em versos. No mais, são textos em que alguns versos consideram sobre a problemática da guerra, “Versos Bélicos” , e outros discorrem sobre umas polêmicas criaturas : os insetos, “Das Controversas Criaturas”. Espero que tenham boa leitura. Um grande abraço!

sábado, 14 de novembro de 2020

Meus Memoráveis Tempos do Halley

Por estas paragens retornava;

num alvoroço centenário se anunciava, 

curiosidade despertando,

expectativas gerando,

desde quando se houvera saber 

da sua reaparição a acontecer, 

como um velho conhecido 

fazendo-se ressurgido.

Deixar de ser não poderia

a esta alma contemplativa que se havia 

iniciado num âmbito superior de pensamento, 

aguardando o ano, o mês,cvo dia, o momento

da sua passagem fulgurante;

de tomá-lo como tão impressionante; 

de tornar-me por assim arrebatado 

de por isso muito ter especulado

E fiz-me aguardá-lo de um lugar especial, 

entre seres sapientes de cristal.

Altas teses e conceitos poéticos; 

humanos, profundos, estéticos. 

As mais artísticas expressões; 

as mais místicas meditações.

Teorias irrefutáveis, 

Políticas inquestionáveis, 

de lazeres entremeados; 

prazeres os mais refinados.

E , Óh, o quanto ganha relevância 

fatos sob a sua circunstância; 

inusitados acontecimentos, 

mexendo com os pensamentos.

Faz-se sobrecarregar noite e dia 

o ambiente de densa poesia,

com especial encanto

que envolve os quatro cantos.

 

E oh! O quanto pensa um vivente 

ante à sua presença iminente.

Se poder magnético possui; 

se  irradia energia que influi;

se relação com os metafísica encerra

 com seres já aqui na Terra,

não afirmaria certo não ou sim. 

Ou se tem algum, qual o seu fim?

Mas desperta para o poder do universo 

Em grande mistério faz tudo imerso.

Se marca um tempo a se renovar;

 se com fatos na Terra está a se relacionar, 

não é apenas um fato da astronomia,

mas possuis mais intensa magia.

 

 

Contemporâneo a seu tempo sendo, 

vivências do seu tempo depreendo;

sua última passagem do segundo milênio então; 

início do último quarto do século vinte cristão. 

E oh! E quanto mais a mim se sugestionou;

o quanto animou o meu espírito sonhador...

 

Que influenciou em minha mente 

é certo, indubitavelmente.

E nos objetivos, planos que idealizei 

por seu tempo, tanto mais acreditei... 

E tanto no universo ampliado pensei;

e muito mais sobre a realidade especulei; 

o sobrenatural fantasiei;

a verdade imaginei.

 E eram olhos, coração e mente 

voltados ao astro tão somente.

Era uma viagem, um trem espacial, 

numa intergalática real,

 por caminhos nunca por alguém seguidos 

mas pelo luminoso demais percorrido.

 Fez-me arrebatado em atenção. 

Numa dimensão da mente, propulsão.

Oh, humanidade, vida desassossegada, 

neste minúsculo lugar,  fragilizada; 

oh! Cosmos de imensas grandezas,

das quais tal corpo é uma das belezas. 

Mas o fazia enorme, vistoso o brilhante, 

na sua presença impressionante,

 avançando inexorável

em sua órbita incomensurável; 

enorme bola de fogo a passar, 

os olhares a maravilhar;

 mudando o céu, quão visível, 

numa visão inesquecível

da celeste paisagem, 

alterando a imagem,

realçando o belo céu em poesia, 

a mais do que se vê dia-a-dia.

Óh, o quanto me fiz reflexivo

 por seu movimento vivo.

Enorme, vistoso, brilhante seria,

 como o meu sonho se realizaria. 

Era mais um em desilusão,

do que em si havia de previsão.

 Pelo que não se fez enorme, vistoso, brilhante. 

Não se fez em sua imagem gigante.

E se na minha visão ainda assim se crava,

 foi  mero acaso, já não o procurava.

O que me aconteceu, da parte do sonho 

dizem estes versos que componho.

Era quando assim passava,

 e a minha vida desmoronava. 

Com os pilares a ponte caía.

A ponte que então construía

 desde aquele presente até o futuro; 

Ficou a minha luz no escuro;

em volta fechavam-se portas; 

as trilhas tornavam-se tortas. 

E eram passos em desaprumo, 

Incertos na direção, no rumo.

 Uma guerra se fez para vencer; 

resguardei-me no amor a me valer. 

O ódio não lograva vingar em mim; 

Preservava a pureza da alma assim.

 A tônica era cantar com fervor, 

como se buscasse ajuda a meu favor. 

Pra me salvar da dura adversidade,

a me envolver em intrigante realidade. 

Invocava do universo qualquer poder, 

que o necessário bem me viesse a fazer. 

Então clamava qual desesperado.

Qual fossem brados ao firmamento lançados. 

E pela lira também fiz  mensagens soar,

para que no alto espaço  fossem viajar

 desde o revoltoso mundo em que estava imerso.

 Também em fortes sopros me manifestei 

para que alcançasse onde bem não sei, 

pela magia de doce flauta mandava 

notas que meu estado d'alma propagava

mas que algum ser iria me poder interpretar,

e com sua providencial intervenção 

me iria livrar da aflição  

em que agonizava.

Assim me salvando imaginava.

Era assim que na situação acreditava;

era meu pressentimento que atuava.

Pois eu era como uma montanha a desmoronar; 

e era no mundo , um a se desenganar.

 A espinhosa guerra arremessado, 

em fúria, indignado, descontrolado,

no ermo campo da batalha das paixões, 

onde são armados os corações; 

projetado a um abandono sem fim. 

foram-se todos para bem longe de mim, 

nas diferentes direções da vida, 

deixando-me num deserto sem guarida.

E óh, quantas lágrimas foram derramadas; 

compulsivas, veementes, revoltadas,

pelo que sentia de verdade

 o que me doía da humana maldade.

 E uma vez no deserto indo em frente 

fechou-se no céu o tempo, de repente; 

carregadas nuvens o dia em noite tornava; 

e com trovões a tempestade se anunciava; 

os relâmpagos os raios anunciaram. 

Os meus passos então se apressaram,

tementes de um fatal perigo;

e em quilômetros não havia abrigo; 

e assim  preocupado eu corria.

Um primeiro raio próximo a mim caía;

 os metais, do meu corpo já os punha fora 

naquela tão aflitiva hora:

anéis , pulseiras, colares, dispensei,

 e após muitos passos um abrigo alcancei; 

após alucinada corrida,

temente d’álgum raio selar-me a vida. 

E ali, antes de longa noite sem dormir

 aos céus profundamente agradeci. 

E prossegui do deserto a travessia 

na clara manhã azul do novo dia.

Desilusão à mega astral passagem, 

pelo que fazia disto a imagem;

pelo que não se realizaram meus anseios, 

e por tudo o mais que então veio.

E vieram rajadas de vento 

trazendo inesperados tormentos.

Dentro em minha mente varria, 

que o cabelo desde as raízes doía.

E em meu juízo caiam faíscas de fogo; 

e a vida tornou-se um perigoso jogo, 

tirando-me estabilidade e confiança,

instaurando-me ansiedade e insegurança.

Num denso vazio, num cáustico tédio, 

fraqueza, desânimo, prostração sem remédio, 

como se me houvesse enfeitiçado;

sentia-me o corpo todo quebrantado. 

Fui arremessado a um abismo sem fim, 

profundíssimo no âmago de mim;

e caía, e caía tão somente;

e vagava mais e mais infindamente. 

Fui ao frio; ao redemoinhoso negror; 

em náusea e tontura a cabeça rodou; 

e ia perdendo paredes, teto, chão; 

consciência, sentidos, visão;

e temia de a loucura , irreversivelmente, 

tomar- me definitivamente.

E batia tresloucado o coração;

 e chamava mais e mais pela razão.

 Um pesadelo outrora tido lembrava:

 O negror de um abismo contemplava,

 na beira, afastar-me, aos passos para trás tentava; 

mas paralisava-me o medo que meu ser tomava. 

E aquela situação de terror se prolongava.

Temeroso de cair, um passo não dava; 

e aquela situação me angustiava;

e só o despertar me salvava.

 

E foram noites e noites insones. 

E em noites das noites insones 

em que o dia de repente raiava, 

tão rápida a noite passava, 

quantos eram os pensamentos,

que se tornava a noite um só momento,

 discos voadores apareceram ante a minha visão. 

Se eram da minha mente projeção,

não eram de uma mental alucinação: 

neles não pensava então;

 não vieram de uma autossugestão. 

Não me custa acreditar que eram reais, 

no alto céu a enviar-me sinais.

E eram como um alento: só eu não estava. 

E assim captar as mensagens tentava...

E um deles um luminoso gás soltou

que num planeta com anéis se transformou. 

E às vezes movimentavam-se rapidamente

 vertical, horizontal e diagonalmente.

E outro depois avistei distancíssimo, 

entre astros pequeniníssimos.

E de um outro sonho lembrava:

um vulto em noite escura à beira mar caminhava, 

então uma nave espacial junto a ele baixava,

e nele indo embora então viajava; 

e tanto quanto mais me intrigava.

E não esquecia remoto sonho que falava 

do mistério que envolve solitárias gentes.

Era um deserto com  sol poente ou nascente...

E contatei estrelas sinalizadoras que apareciam, 

buscando compreender as coisas que me aconteciam. 

E às vezes silenciava de se ouvir o mar murmurar,

e até de se ouvi-lo silenciar.

 Faíscas prateadas vi choverem sobre mim na cama; 

momentos se faziam de alívio e trégua no drama.

E noites se passavam ao meu desperceber, 

pensando, pensando, pensando a valer;

e eram tantos pensamentos eu pensando; 

aos borbotões da minha mente jorrando, 

como água de cachoeira despencando, 

com tantas e tantas ideias minando.

E também foram noites e noites sem dormir 

por tanto barulho a meus ouvidos invadir, 

além das vozes azucrinadoras,

entre outras, suaves, acalentadoras.

 E no interior do meu crânio aquelas ecoavam 

a quase explodir meus miolos estavam.

E algumas ouvia contra mim urdirem.

E um canto agourento negra ave assobiava, 

interceptando- me os pensamentos no que ansiava. 

E meu juízo com seus pios me apoquentava;

e mais e mais o meu sistema nervoso afetava. 

Decidido e determinado no mar a fiz fenecer; 

não mais aguentava com tal presença conviver. 

Depois a ouvi ainda entre as vozes azucrinantes. 

Tentando ainda ser ainda tão abusada como antes

Por tanto, o bom senso muitas vezes perdia,

e tamanhas loucuras cometia;

 e ao esdrúxulo, ridículo, me fazia exposto. 

Jamais esquecerão meus lábios, meu rosto. 

E inflamou-me o coração até;

e brasa deu-me sob os pés.

E num ciclo involutivo penava sem clemência;

 era tanta conturbação dentro do meu ser 

que desmantelava tudo que me fizeram crer. 

E era uma crise só minha existência.

E o mar refletia, quando em suas águas bravias, 

essa conturbação que meu ser envolvia.

Se pudesse, do planeta fugiria; 

cheguei a pensar naqueles dias...

E um labirinto sob o céu se me tornava;

 e a saída, a mais perder-me, não encontrava; 

e ora era um molambo sob o sol a caminhar,

ou nas noites sob as luzes dos postes a iluminar.

E ainda imaginativo, curioso, por vezes me indagava 

a quantas a essa altura o meu cometa andava...

E ora sentia uma fome a qual nunca saciava; 

e  comia numa gana selvagem que me dava. 

E ora ficava longos tempos sem comer;

e pensava,  pensava,  refletia, meditava a valer.

A sombra d’um alguém meus passos acompanhava; 

irado, quatro dedos envoltos em metal, me ameaçava. 

E uma mulher segurando pela calda um escorpião,

me cravava pela carne à alma o aracnídeo ferrão. 

Iniciei- me em indignada manifestação;

e toda a humanidade repreendia então. 

Legião de maléficos contra mim se voltava; 

e ante a todos me fazia forte e lutava.

Um ser satânico mostrou-se fazendo-se visagem,

 com seu tridente a intimidar e até a sorrir, 

frente à minha cama na hora de dormir.

Então eu orava para defender-me bem, 

e então o ser satânico sumia também. 

E na noite seguinte ele reaparecia; 

então eu orava,  orava e ele se ia.

E quando meus olhos fechava, 

antigos profetas avistava.

 E sinalizavam orientações,

 com seus cajados, em seus roupões. 

E nas visões que então estava tendo,

era nuvens de fumaça a lua absorvendo;

e a pousar com graça a lua em seu quarto minguante; 

nariz e lábios proeminentes em posição relaxante.

Também vi a lua cheia um ser diabólico a englobar; 

calda de seta suspenso no ar,

a me encarar sério, sem se dissimular. 

Não sei disso bem o que pensar...

Mas também via Jesus se mostrar, 

na entrada do sol afigurar.

A que aprendi a crer devidamente

 O que colocaram na minha mente.

 E em noites desérticas da minha incursão, 

tanto do céu se mostrava ante minha visão; 

estrelas e mais estrelas do céu caiam,

e outras mais e mais surgiam.

E se mostravam as mais incríveis paisagens;

as nuvens tornavam-se nas mais diversas imagens. 

Quiçá miragens fossem somente então;

ou só tomavam formas ante à minha visão. 

E assumiam formas humanas também; 

gente que já tinha ido para o além;

e eram tipos os mais esquisitos;

 e até um dos que aqui se fizeram mito,

 surgido do céu, veio a mim antes os olhos meus; 

mais distante no céu outro me acenava adeus.

Vi uma árvore em semblante assombroso se mostrar; 

que foi miragem ainda custo acreditar.

E sentia o tempo rápido a passar, 

e eu sem o poder o acompanhar, ìa ficando para trás;

e sentia-me  perdido mais e mais.

 O espectro de um vivente veio a mim desacatar

 - incrível poder tem alguém assim a se deliberar.

 E outro espectro humano vi passar 

pelo vidro da janela a me olhar.

Outro vi tentando da minha visão se esconder; 

brincalhão, de mim, da minha procura a se entreter. 

E outro vi sentado à noite na beira de um mar,

e perguntou-me de mim ao por ele passar, 

quando rodava à procura da  lagoa mágica,

tendo ultrapassei numa passagem para tantos trágica; 

vi tais espectros ali amontoados, 

pelo medo barrados. 

De me verem seguir determinado 

ficaram admirados; 

após, encontrei então o silêncio universal,

de ouvir-me até o pensamento em sua essência real. 

E vi uma esfera dourada e brilhante,

como um pequeno sol, radiante. 

Como uma jóia, deixou-me fascinado; 

tal lembrança ainda me faz intrigado. 

E a tudo isso, compreender eu tentava, 

e por mais que tentasse não atinava.

 E vi extraterrestres na Terra baixarem, 

e em seres humanos então encarnarem.

Almas de desencarnados de outros planetas eu via: 

tomavam o corpo de quem a alma matado se havia,

e assumiam missões de quem assim não mais existia então;

e assim vão assumindo cada qual uma sacramentada missão... 

Vi no trono de um templo, cajado à mão,

um tão antigo profeta em seu galardão; 

coroa à cabeça,  barbudo, austero;

de olhar atento, guardião severo.

 E vi um povo nas trevas sem a luz encontrar,

 e observava ali bem perto um iluminado estelar. 

E em meio àquele povo eu também estava,

e eu seria a luz da qual aquele povo precisava, 

mas a quente influência daquela luz me torturava,

e com tudo o que havia, ainda mais me transtornava; 

sofria seu olhar de ódio alucinado.

E me perguntava o porquê de tudo isso, intrigado.

E vi um ancestral cacique revoltado, 

por seu povo terem dizimado.

E inquiria, ante à imagem de Jesus salvador, 

erguido em pedra, o porquê de tanta dor.

E era rijo e tinha um duro olhar;

 e em seus pensamentos veio a considerar 

que o Ser Superior não tinha culpa enfim, 

mas sua paixão apaixonara um povo assim. 

Esse índio tinha na cabeça três penas,

e chorava pelo seu povo, triste cena.

E vi o interior da minha morada 

transformar- se totalmente deformada. 

Lampejos no azul do céu eu via,

e a noite vir quando ainda era dia;

e via-me a poder ver de olhos fechados; 

e via- me em um mundo separado;

e havia um canto que de longe vinha, 

e forma de gás etéreo tinha,

e de dentro desse canto 

vinha outro num espanto, 

e era quente,

agoniando a mente

 do iluminado estelar junto ao povo,

 o que da tortura dava-me alívio novo, 

pois sua radiação quente assim não podia 

queimar-me a alma como fazia,

ocupado que estava

 com o canto quente que o massacrava.

 Mas, no ciclo, era de novo ao forno projetado; 

aquele inferno se fazia ainda mais esquentado. 

Sentia-me ao pelo seu ser preso sofregamente, 

como se houvesse ali uma parte da minha mente. 

E vi no céu, num átimo de olhar de repente,

de branquíssima fumaça uma serpente; 

e morcegos espaciais a cravarem dentes, 

sugando forças de corpos e mentes

de tantas almas, de tanta gente;

vi os cães na areias da praias repousando, 

na tarde serena, lenta, passando;

e na madrugada silenciosa, gatos negros despertos, 

ante à insegurança do meu futuro incerto;

vi os galos trocarem cantos na madrugada. 

e na manhã trocando cantos a passarada.

Era conversa, discussão, um ao outro replicava. 

E toda aquela troca de ideias eu interpretava.

E no centro da Terra, em mim viajando, 

vi dela um sábio ser se ocupando,

e assim fazia a certas mentes iluminar, 

para problemas soluções encontrar.

E via um fluido do meu crânio sair, 

aliviando-me a mente, a fluir, a fluir. 

E tanto mais eu via,

e tanto mais acontecia.

 E tive estranho pesadelo acordado,

 sob um pesado cobertor acomodado, 

o qual me revelava

a terrível situação em que me encontrava:

era um pássaro preso numa gaiola em que estava, 

e uma ventania era de alguém que sobre o pássaro abanava

Mas o pássaro era eu que sentia, 

e era assim que mais me afligia.

E não repousava, pelo vento que assim castigava, 

e aquela situação mais e mais me cansava

era um penar sem poder descansar 

e ansiava demais poder repousar.

E esse alguém parecia não ter coração. 

Como podia agir assim contra um irmão? 

E tudo isso e bem mais ia vivendo,

tudo assim e mais e mais ia sendo.

 

 E então foi organizado um tribunal

 para julgar o humano mal;

 e, dos humanos também nascido, 

como réu fui eu o escolhido

para representar a humanidade 

no julgamento da sua maldade.

E ressoou a sineta iniciando o julgamento,

o que começou neste conturbado momento. 

E desfilava ante meus olhos no tribunal, 

desde o primeiríssimo mortal,

e da humanidade a saga, a história, 

de decadências, passagens inglórias,

entregue aos pecados e atitudes inescrupulosas; 

às injúrias, aos escândalos e orgias luxuriosas; 

aos exageros, ao cinismo , às incongruências; 

aos vícios, à mesquinhez, à violência;

aos desmandos, às quedas, aos vexames; 

às aberrações libidinosas, aos desditames; 

à perda do respeito a tudo, a todos, a si.

 Não seria absolvido, pelo que via ali, 

e como já era por mim esperado,

fui por unanimidade condenado,

e a um covil de serpentes fui atirado, 

cruelmente submetido e escravizado. 

E muitas picadas dolorosas sofria,

e lá havia muitas armadilhas em que caía, 

e armadilhas mais viviam a armar

nos caminhos me havia para trilhar

 na busca daquela condenação me libertar, 

na busca desesperada de me salvar.

Outros e outros mais eram atirados às serpentes, 

que picavam, envenenavam os corações daquela gente.

E tanta fétida fumaça sufocava,

 e por dentro do meu corpo um fio dela transpassava.

 E castigava também um enxame de atrozes insetos que ali havia,

 E poderosa persuasão de suicídio me perseguia. 

E ouvia terríveis gemidos dos condenados, 

que como eu soltavam dolentes gemidos, 

gemidos das dores que sentia.

E via gente a morrer de todos os lados;

 e muitos diabinhos dos sofredores caçoavam; 

fustigavam, espicaçavam, pirraçavam, irritavam. 

E uma angústia sentia na alma, no peito;

e era sofrimento e aflição e todo jeito. 

Mas no Ser Superior tudo é enigmático,

e vingara enfim os meus contatos telepáticos 

com anjos estelares do presente, do futuro e do passado,

e pela estrela que houvera conquistado 

com a força do pensamento

em tão precioso momento,

e a qual em note tão mística me alcançou 

no fluxo da consciência do próprio amor.

Aos sentidos do Ser Superior chegaram

 as notas musicais que pelo espaço sideral viajaram

 desde a garganta ,da flauta e da lira, as mensagens, 

após refluírem nas estrelas destas paragens.

 E o Ser Superior interveio em Seu Verdadeiro Ser, 

como o Anjo mais perfeito a se conhecer,

e após segui-lo a cumprir desafios tão duros,

 e não ter perdido a fé, mesmo no mais denso escuro. 

Por mar e terra me havia arrojado sem temer a morte, 

então por fim Ele veio, salvação e sorte.

E por Ele abriu-se uma fenda de luz mais e mais, 

desvelando a Terra numa beleza por demais, 

sob o sol a natureza em belas cores.

 E não mais me acometia velhas dores; 

e nas asas dos anjos telepáticos voei;

e libertos daquele inferno outros mais encontrei. 

Tornou- se então sereno o mar que me agitava: 

O Bem o Grande Mal derrotava.

 E era diabólico, como o demoníaco Satã, 

que a vida nega, e destrói mentes sãs; 

que de sonhos de realização do bem é opositor;

 que de ingênuos e inocentes de Deus é detrator; 

que em avermelhada nuvem me houvera aparecido, 

encarar pressionador o meu ser cansado, caído, 

entre espinhos, no ermo, sofrido, lacrimoso,

com seu olhar fixo, rancoroso, odioso;

 o qual havia vencido a mente de um suicida, 

para fazer-me a alma perseguida.

Foi dominada e queimada a serpente da dor;

E com o Grande Mal caíram os hipócritas, inimigos do amor;

aqueles mesmos que falso juízo final organizaram, 

e que por humanos erros vidas inocentes ceifaram.

Graças a desejo, paixão e fé minha força se renovava 

pela vida e pelo sonho nos quais mais e mais acreditava;

 e as pernas nunca me negaram o andar,

 léguas e mais léguas se preciso fosse caminhar; 

dentro em mim uma força cresceu;

o bem em mim o mal não venceu,

 graças ao Ser Superior que na intervenção acreditei, 

do dilema dantesco me livrei.

E acima da minha cabeça sob o céu, em bando, 

andorinhas reais voaram circulando;

e a terra prometida por fim alcancei; 

e ao mundo outra vez retornei,

após o eu de mim encontrar, 

e a sã consciência vingar.

Todo o mal como veio se foi daqui;

 em raios de luz, como um vulcão eclodi; 

dentro em meu crânio uma luz 

intensa, tão clara, tão forte, tão densa;

e retornei ao gozo da vida mais pura, 

após as mais absurdas aventuras; 

após o que pude me conter

 para tantas loucuras mais não cometer.

 E assim foi que tudo terminou;

 e assim foi que a desventura acabou.

 E em mim o espírito do mais puro sentimento, 

transcendendo ideais e pensamentos;

sonhos reais de estar voando, 

sentindo todo o meu ser flutuando.

Do espaço sideral me fiz ainda mais admirado; 

nos céus das noites são astros insuspeitados;

no acrílico azul marinho de prateados brilhantes, 

Em constelações, planetas, lua e pontos de luz riscantes. 

E como é bom o alvorecer e belo e dia, 

cinza, branco, azul com o sol que irradia; 

e volta a ser bom passear à beira mar,

e o mar contemplar, e nele nadar e mergulhar; 

mergulhar até o último fôlego em movimentações,

experimentando dos peixes as sensações; 

e como é mais belo e vistoso então,

no cinzento inverno ou no colorido verão; 

e como é bom viver a vida,

resgatado o seu viço e em tão boa guarida.

 Mas se deveras porém tem relação

 os fatos aqui revelados com a centenária aparição, 

e os quais aqui são narrados nestas pobres rimas, não é sobremaneira tudo o que suponho.

Sou consciente de o quanto eu sonho, 

e o quanto de pesadelo pode vir então 

sendo ambos de uma mesma dimensão.

 Mas comigo são associados principalmente 

por terem acontecidos concomitantemente

a uma época em que por aqui o Halley esteve presente;

antes, durante e depois da sua passagem tangencial.

Fatos aos quais por aqui ponho um ponto final 

neste momento em que os deixo registrados;

 fatos inesquecíveis, memoráveis, profundos, 

que de mim então transporto ao mundo.

E a quantas anda o meu cometa famigerado? 

Tão longe vem para outro tempo esperado.